quinta-feira, dezembro 29, 2005

Um homem

Numa manhã solarenga, um homem sem coração tenta começar a escrever a sua obra triunfal, o livro dos livros, a história da humanidade, com todos os seus percalços e desatinos, num só simples caderno. Todavia, o caderno do homem sem coração, à semelhança de todos os outros cadernos menos dotados para a glória, encontra-se vazio. Sem uma frase ou palavra que possa adocicar o espírito do escritor menos precavido contra as intempéries da escrita. E vazio continuará, pois o homem sem coração, pensando na humanidade, não consegue transpor para o papel a bala que lhe atravessará o crânio.

[Paulo Ferreira]