quinta-feira, dezembro 15, 2005

José Saramago (notas)

Uma das coisas que mais aprecio em José Saramago é a sua capacidade inventiva, ou a sua originalidade criativa. Não digo que aprecie, por exemplo, a forma barroca que Saramago arranjou para escrever os seus livros. Porém, temáticas de livros como As Intermitências da Morte são, pura e simplesmente, brilhantes. Imaginar que chegará o dia em que a morte deixará de matar é, para além de surreal, uma imagem que não pode deixar de inquietar o leitor comum. Ainda mais quando no Público de hoje se noticia que um político regional brasileiro quer impedir os seus cidadãos de morrerem. Com efeito, a morte, nas suas mais variadas formas, sempre foi um assunto recorrente na literatura e na vida em geral. No caso de Saramago, temos a velha morte, vestida de negro, com o seu tenebroso crânio tapado por uma túnica. Temos a velha e funesta morte a fazer greve e a, posteriormente, voltar a matar. Temos a morte que quer voltar a matar mas que não consegue apanhar um simples e pobre violoncelista. Temos a morte que deixa de ser morte porque se apaixona pelo mesmo violencelista. Enfim, temos a morte vista sob várias perspectivas, sempre todas elas interessantes.

Quanto ao Saramago não-escritor, não tenho palavras. Nada do que o senhor diz se parece coadunar com a realidade que me rodeia. Desde as suas opiniões sobre Israel e a América às suas opiniões sobre o mundo político em geral, nada me parece fazer sentido. Nada. Nem Lanzarote me parece fazer sentido. Nada.

[Paulo Ferreira]