sexta-feira, dezembro 30, 2005

Desde as nove

Meia-noite e meia. Rapidamente passam as horas
desde as nove em que acendi o candeeiro,
e aqui me sentei. Estava sentado sem ler,
e sem falar. Falar com quem
totalmente só nesta casa.

O simulacro do meu corpo novo,
desde as nove em que acendi o candeeiro,
veio e encontrou-me e lembrou-me
fechados quartos com aromas,
e prazer passado - que prazer valente!
E trouxe-me também diante dos olhos,
ruas que se tornaram agora irreconhecíveis,
sítios cheios de movimento que findaram,
e teatros e cafés e era uma vez que o tempo tem.

O simulacro do meu corpo novo
veio e trouxe-me as tristezas também;
lutos de família, afastamentos,
sentimentos de gente minha, sentimentos
tão pouco apreciados dos mortos.

Meia-noite e meia. Como passam as horas.
Meia-noite e meia. Como passam os anos.


- Konstandinos Kavafis, Os Poemas

[Paulo Ferreira]