domingo, outubro 16, 2005

Mudar de vida

Há uma semana atrás, escrevi aqui que o CDS sofre de falta de liderança. Devo acrescentar que, enquanto escrevia esse «post», uma espécie de rescaldo aos catastróficos resultados obtidos pelo partido de Ribeiro e Castro, não sonhava com qualquer tipo de regresso de personalidades que fazem política apenas para massajar o ego, como Paulo Portas. Queria apenas dizer o que para mim parecia óbvio; dizer que, por muito honesto que seja Ribeiro e Castro, não é com o seu tipo de liderança, escondida e recatada, que o CDS se afirmará como partido de direita elegível. Ora, passada uma semana, continuo a afirmar o mesmo: Ribeiro e Castro não é um líder que consiga recuperar o CDS, digamos, para a vida eleitoral.

O CDS não é, ao contrário do que defende o defunto director do Expresso, um partido com tendência para desaparecer. Pelos menos, se tivermos em conta os últimos anos, a verdade é que o CDS tem conseguido manter uma certa regularidade eleitoral. É certo que nunca atingiu os dez por cento de votos pretendidos por Paulo Portas nas últimas eleições legislativas, mas também nunca desceu a níveis realmente alarmantes. Porém, esta regularidade por baixo faz pensar que o CDS e a maioria dos seus membros se acomodaram a uma certa apatia eleitoral, que relega tudo o que venha da sua zona política para um patamar inferior. Julgo que os resultados conseguidos por Maria José Nogueira Pinto, uma excelente candidata (talvez a melhor), em Lisboa são ilustradores dessa apatia geral a que me refiro.

Se seguirmos uma linha de raciocínio bem portuguesa, que tende para facilitar aquilo que não é de fácil resolução, a reacção do CDS às eleições autárquicas foi excelente. Como partido de tendências conservadoras que é, o CDS reduziu-se ao silêncio, não se importando, por conseguinte, com pensamentos alheios à sua realidade partidária que é, como já referi, uma realidade predisposta ao conservadorismo e, como não poderia deixar de ser, ao silêncio. No entanto, julgo que essa linha de raciocínio não chega para explicar os desaires de um partido que, até há quatro meses atrás, desejava implantar-se em Portugal como partido de poder. Portanto, o silêncio que trespassa do CDS para o exterior só pode ser significado de falhanço por incapacidade absoluta dos seus agentes políticos e, principalmente, de Ribeiro e Castro, que nunca se conseguiu impor enquanto líder viável para certas reformas estruturais de que o seu partido necessita.

[Paulo Ferreira]