sexta-feira, outubro 28, 2005

As aves


As aves estão prestes a dominar o Mundo. A acreditar nos canais de televisão portugueses, parece ser isso que se está a passar no Mundo, desde Ásia até Portugal. As aves, supostamente doentes, de um cantinho de um país com menos condições, emigraram e passaram a vez a outras aves, e assim sucessivamente. Este parece ser o argumento simples que tanto pode dar origem a um sofrível filme de terror psicológico de «culto» (que não do mesmo nível de Hitchcock), como encher um telejornal de uma ponta à outra. E, assim, se impregna de um mediatismo sem igual a televisão e a população (passadores de palavra) portuguesas.

Num momento estamos descansados, num restaurante, num combate agradavelmente desigual com um frango assado, no outro já se vendeu a ideia de que os frangos dos melhores aviários ou criadores não são mais higiénicos e saudáveis que os pombos das principais praças urbanas do país. Tal como antes nos tiraram dos pratos qualquer coisa que tivesse a ver com gado bovino - lembro-me de uma senhora que deixou de dar gelatina aos netos porque «era o tutano da vaca». Tudo isto graças ao espectáculo proporcionado pelos telejornais com mais audiência do país, em especial «o da senhora que é casada com o outro». Telejornal em que um bando de gaivotas com problemas de orientação são notícia de abertura.

O alarmismo das epidemias não é novo, há muito que veio para ficar. Seja um ataque químico em massa através do correio, sejam doenças bovinas, sejam doenças que aos pombos dizem respeito. Deixem os diagnósticos e os alertas para os médicos e especializados no assunto. Ainda assim, aproveitem a televisão que temos - se o vosso animal de estimação morrer subitamente, telefonem-lhes. É bem possível que dê início a outra efeméride.

[João Silva]