quarta-feira, agosto 24, 2005

Melancolias II

Gostávamos genuinamente deles, éramos os seus maiores admiradores. Hoje, universitários e «cidadãos do mundo», só os usamos para descomprimir o nosso inchado ego e para comparar notas, estágios, profissões, ver quem chega mais longe. As conversas sem sentido que tínhamos intervalo após intervalo são substituídas por «conversas sérias» e as competições de banalidades deram lugar a competições eruditas e a um upgrade sofisticado e, dizemo-lo para nós próprios, bem-intencionado das conversas de café sobre a vida dos outros.
Num momento lamechas temos saudades de dizer aos nossos amigos aquilo que escrevemos em tempos nos cadernos de dedicatórias, quando partilhávamos os mesmos sonhos e éramos capazes de estar lá sempre. Hoje, acudimos a uma aflição, estamos lá nos grandes acontecimentos, é certo, mas já ninguém vê a amizade como profilaxia mútua dos problemas nem como presença nos pequenos momentos, os das conversas sem sentido.

[Bernardo Sousa de Macedo]