sexta-feira, agosto 12, 2005

Andrómeda

Na véspera de te suicidares, levaste-me para o parque sem guarda.
Como sempre quando me querias contar algo, levaste-me lá de noite. Para o sítio onde as luzes artificiais não nos encontravam. Onde tu podias mentir com quantos dentes tinhas, sabendo que os teus rubores de mentira inocente estavam a salvo do reflexo pálido da cassiopeia.
Sempre lidaste bem com a Natureza, mas os homens, dizias, destruiram a mulher que eras. Como sempre, acabaste por nunca falar do que querias. Como sempre, o esconderijo das luzes artificiais ocultou os teus fantasmas. Um dia depois, ocultava o teu corpo frio e sem vida, adormecido nas folhas secas como se sonhasses.

[João Silva]