domingo, abril 24, 2005

Líderes «à direita»

Ao que parece, a lista de José Ribeiro e Castro prepara-se para surpreender, no seio do CDS/PP, os militantes (e aspirantes à «classe» política) mais inertes. Sobretudo, vai surpreender aqueles que viam, com lágrimas nos olhos, o abandono repentino de Paulo Portas da direcção do partido - não porque este personifica uma ambição inteligente (embora irrealista) e um talento natural para «vender» pequenos projectos, razoáveis ou não, a um grande público, mas porque Portas era o reflexo, em espelho limpo, do sonho dos jovens «doutores», de licenciatura na mão, que querem subir rapidamente na hierarquia, em direcção ao governo (perspectiva agora provada e atingível).

A substituição de um líder carismático (no entanto, com mais do que a visceral «partidarite» que tanto se alimenta do sentimento, como se via noutros partidos) seria sempre, não só difícil, como inevitavelmente prejudicial para um partido. A saída de Paulo Portas foi, certamente, o golpe de misericórdia em certas amarras que ainda ligavam, ao PP, franjas mais liberais e menos democratas-cristãs, mais «à direita» e menos seguidistas no que toca a entrar para cargos de Estado. Sobretudo, os últimos anos de Paulo Portas à frente do Partido Popular foram uma lufada de ar fresco num partido que nunca atingiu picos históricos sem os feitos ou artimanhas de figuras isoladas, como Amaro da Costa, Freitas do Amaral, Lucas Pires ou o próprio Portas.

Este foi um líder muito menos que perfeito. Aliás, o cruzamento de um ímpio calculismo político com um instinto natural para o populismo nem sempre deu os melhores resultados. Na verdade, o grupo de que se rodeou está cheio de pequenas imperfeições, de meninos catapultados da colagem de cartazes para o sapatinho e brilhantina, como João Almeida ou Mota Soares.
Mas Portas deixou um status quo que convém não perder e, sobretudo, não manobrar erradamente enquanto não houver homem indicado para o cargo. Há que ter em conta que «imitações» e repetições levam sempre a erros. Portanto, Nuno Melo, certamente uma boa opção (a minha opção) se lá me encontrasse, seria, nos anos seguintes, uma via a não tentar. Por outro lado, nessa linha, a manutenção de Telmo Correia (bom parlamentar, note-se) seria optar por um enorme vazio no meio do partido, vazio de presente, e vazio de futuro.

Ribeiro e Castro, a quem pouco dei crédito antes (e continuo na minha apatia) perfila-se como a via a escolher. Sério, experiente, bem-humorado, sem «pose de Estado» e com uma inteligente simplicidade e sensibilidade. Assim, para este rapaz mais conservador que quer continuar a viver mais anos em Portugal, Ribeiro e Castro pode ser a figura mais forte para manter ou enriquecer uma disposição mais descarada de rejeição do «Progresso Universal». Pelo menos, quero acreditar que sim.

[João Silva]