segunda-feira, abril 18, 2005

Elogio a MEC

Há uns meses, Pedro Paixão afirmava, numa entrevista, que pouca gente prestava atenção à faceta literária de Miguel Esteves Cardoso. De facto, se se considerar que circulam pelos meios da comunicação social livros de autores de qualidade duvidosa, Miguel Esteves Cardoso é desprezado. Desprezado, apesar de os seus romances conseguirem ultrapassar, normalmente, a décima edição. A verdade é que, por muito que os livros de Esteves Cardoso sejam vendidos, ninguém fala deles. E, provavelmente, poucos os lêem.

Os romances de Esteves Cardoso, mesmo não atingindo a qualidade de obras de autores como António Lobo Antunes ou Agustina Bessa-Luís, conseguem superar muito do que hoje se escreve no nosso país. O Amor é fodido (título que é capaz de explicar muitas das vendas), por exemplo, é uma obra que deveria ser mais divulgada pela comunidade intelectual, como diria Miguel Sousa Tavares, a propósito das excursões de Eduardo Prado Coelho ao Brasil. Aqui fica um pequeno excerto: «Quanto mais longe, mais perto me sinto de ti, como se os teus passos estivessem aqui ao pé de mim e eu pudesse seguir-te e falar-te e dizer-te quanto te amo e te procuro, no meio de uma destas ruas em que te vejo, zangado de saudade, no céu claro, no dia frio. Devolve-me a minha vida e o meu tempo. Diz qualquer coisa a este coração palerma que não sabe nada de nada, que julga que andas aqui perto e chama sem parar por ti».

[Paulo Ferreira]