domingo, março 20, 2005

Conversas

Conversar com alguém é, nos dias que correm, cada vez mais difícil. Pressupõe-se que o ser humano, quando nasce, já tem um grupo de amigos à sua espera com bandeiras e confetes. Julga-se que vivemos todos em constante partilha de sentimentos bonitos uns com os outros, que vivemos em sintonia total. Porém, desilusão das desilusões, a harmonia entre os homens não existe, assim como não existe a partilha de coisas como o amor. O amor nasce sempre dentro de um indivíduo e morre sempre dentro de um indivíduo. Pelo menos, é o que se sucede em sociedades progressistas como a nossa. O indivíduo pensa que viveu toda a sua vida feliz, rodeado de pessoas, e, no fim, apercebe-se de que toda a sua vida andou à volta do vazio.

Como afirmava no início, conversar com alguém é cada vez mais difícil. Diria quase impossível. É por isso que qualquer tipo de relação interpessoal é importante ( embora não seja grande apreciador). É por isso que, quando uma desconhecida nos pede uma informação no metro, lhe entregamos, cheios de luz nos pulmões, um singelo «obrigado». Por nos ter falado. Por nos ter salvo a vida por mais um dia.

[Paulo Ferreira]