quinta-feira, março 31, 2005

António Borges II

Concordo com o que o meu amigo Bruno Alves escreveu a respeito de um post meu, até porque concordamos ambos com a maioria das propostas e ideias de António Borges. Porém,não posso deixar de dar ênfase ao cepticismo que toma conta de mim, quando assisto à aparição de algumas personalidades que se vão interpondo à modorra política nacional. Ora, é esse cepticismo que me faz duvidar que António Borges consiga, algum dia, fazer as mudanças de que Portugal precisa. Além disso, ainda ninguém assistiu a qualquer candidatura de Borges, ou de qualquer outro colega ideológico do dito senhor, à liderança do PSD. A menos que António Borges espere que seja Marques Mendes a defender as suas ideias.

[Paulo Ferreira]

O cabo do medo

Na televisão, assisto a um momento de assustadora ternura. Por ocasião de uma cimeira, com fins de debate sobre desenvolvimento político e económico da América do Sul, três homens abraçam-se em sorrisos: Lula, Chávez e Maradona (o argentino/cubano). Uma sensação de frio percorre-me a espinha quando Zapatero, também presente, afirma que «representará os seus interesses na Europa»...

[João Silva]

Forgiveness

No último «até amanhã», soubera que a frase acabava sempre assim.
Quando as portas do comboio fecharam, não olhaste para trás.
Acabavas de entrar num dia novo.

[João Silva]

Messalina

Deitada num lençol púrpura, convidaste-me para o nosso fim.

[João Silva]

quarta-feira, março 30, 2005

This is the end

A luz marcara a entrada em cena.
Os sátiros rapidamente encheram a sala, dançando sobre um mosaico de corpos dilacerados.
Sangrando, um sorriso faustoso surgiu sobre o meu ombro, enquanto me sussurrava convites de sombra.
Valsando sobre o meu cadáver, percebi, enjoado, que as minhas noites de paz haviam terminado.

[João Silva]

terça-feira, março 29, 2005

Internal call

Assino por baixo, como se subscrevesse o ridículo do meu mundo.

[Paulo Ferreira]

segunda-feira, março 28, 2005

António Borges

Por mais que tente, tenho sempre muitas dificuldades em idolatrar figuras como António Borges, apesar de concordar com quase todas as ideias do senhor. Reconheço até que, numa hipotética candidatura de Borges à liderança do PSD, lhe daria todo o apoio. Porém, apesar de admitir que as ideias de António Borges são essenciais para o futuro do país, não posso dar toda a admiração a uma pessoa que parece não ter consciência de que metade das suas ideias não passam de meras ilusões. Por exemplo, uma ideia que já muitos, como António Borges, afirmaram ser essencial para o futuro do país é a da redução do peso da função pública. Ora, a redução da função pública, só por si, não resolve nenhum problema em concreto. Pelo menos, se se tiver em conta que metade dos cursos universitários deste país são, neste momento, dirigidos para a função pública. É ainda de salientar que, a maior parte da população portuguesa, nasce, desde logo, afundada nas redes da função pública. Ou seja, como é que se pode acabar com a função pública num país que nasce e morre para a função pública?

Um outro motivo de antipatia para com António Borges reside no papel de salvador da direita, que parte da imprensa lhe tem atribuído. Não sei, ao certo, até que ponto António Borges tem interpretado o papel de salvador da pátria. Mas, pelo que parece, o dito senhor não se tem incomodado muito com a visibilidade que a unanimidade lhe tem dado, nem sequer se tem inibido de mandar recados para dentro de um partido que se recusa a liderar, à semelhança de António Vitorino, outra personagem mitológica deste país.

[Paulo Ferreira]

Ela

Quebrando o silêncio, entraste na igreja com o teu passo pesado, que ecoou, desde o átrio, por toda a câmara. Por ti, deixaram as orações. Nas balaustradas, olhavam-te com suspeição as beatas. Enquanto atravessavas o templo, todos te reconheceram. Todos sabiam ao que vinhas: o pecado acabava de entrar na igreja.

[João Silva]

domingo, março 27, 2005

Ultimatum!



Atenção. A Obra-Prima não tem herdeiros...

[João Silva]

Constitution

«(...) o verdadeiro objectivo da Constituição Americana não era o de limitar o poder, mas o de criar mais poder e, na realidade, estabelecer e constituir devidamente um centro de poder inteiramente novo, destinado a compensar a república confederada, cuja autoridade se viria a exercer sobre um grande território em expansão, pelo poder perdido através da separação das colónias da coroa inglesa.»

-Hannah Arendt, Sobre a Revolução

[João Silva]

sábado, março 26, 2005

A direita num estádio de futebol

Depois da derrota de Santana Lopes nas eleições legislativas, a unanimidade intelectual sentiu-se na necessidade de afirmar que a direita portuguesa precisa de se reencontrar. Talvez seja verdade que, depois do desaparecimento de algumas personagens demagógicas, algumas almas desencontradas andem a vaguear pelas ruas. Porém, não é possível afirmar-se que a direita em Portugal está perdida, já que, em Portugal, não existe uma direita compacta, consensual. Assim, nem todos os indivíduos que se consideram de direita têm, obrigatoriamente, de se identificar com coisas como o pessimismo antropológico, com o anti-utopismo, com o estatismo, com o liberalismo, com o nacionalismo ou, até, com o elitismo. Com efeito, é possível que um indivíduo seja de direita apenas por não gostar da convivência humana, assim como é possível que um indivíduo seja de direita por considerar que, através do nacionalismo, conseguirá chegar ao progressismo. Ou seja, o conceito de direita, como ideologia, pode ser visto de diferentes modos. Logo, é absurdo que se reduza o país a dois grupos: os de direita e os de esquerda.

No entanto, nestas coisas das ideologias e dos valores, é sempre importante ter-se consciência de que estamos em Portugal, um país habitado por milhões de pessoas que sabem falar sobre a vida e o mundo, sem nunca terem lido um livro decente. Acreditando nesse quase completo analfabetismo das pessoas, é bem possível afirmar-se que a direita está perdida e que a esquerda está salva. O pior é que, afirmações como esta, não provêm da plebe, nem sequer dos novos-ricos que dominam o mundo do futebol. Pelo contrário, essas afirmações provêm de indivíduos que deveriam saber separar a ideologia política das ligações emotivas e irracionais a clubes de futebol.

[Paulo Ferreira]

Prioridades



[João Silva]

sexta-feira, março 25, 2005

Identificação

Sean Penn afirmou, em entrevista recente, que Bush era o primeiro presidente antiamericano. A Europa rejubila de alegria por sentir-se compreendida do outro lado do Atlântico. Porém, não se pode assegurar que o actor seja compreendido no seu próprio país. Por mais estranho que pareça para os milhões de europeus que repudiam George W. Bush, a maioria dos americanos não se identifica com as opiniões políticas de Sean Penn, como demonstram Adrian Wooldridge e John Micklethwait no fantástico Right Nation. Com efeito, a, cada vez maior, identificação dos americanos com ideais conservadores faz com que Sean Penn pareça muito mais antiamericano que George W.Bush.

[Paulo Ferreira]

A família Penn

Sean Penn é, sem dúvida, um tipo irritante. Um bom actor (o que não é consensual), mas uma «personagem» irritante. E irritante, em especial, para quem adoptou uma certa posição em relação ao papel dos EUA (e da política externa de George W. Bush) no Mundo, nos últimos anos.
Não é só Sean Penn «actor» que não se sabe conter nos filmes, também o Penn «activista» e frustrado accionista da campanha de John Kerry atinge uma intensidade que ultrapassa a pose de «idealista» e passa a uma categoria muito mais incómoda: o «parvo».
Numa sua entrevista recente (hoje traduzida no Público), Penn, a dada altura, diz isto em relação a Sam Bicke, personagem de The Assassination of Richard Nixon: Sente simpatia pela personagem? "Bem, à partida sinto simpatia por aquilo que nele é inocência e pureza de ideais. E embora tenha uma vida muito mais privilegiada do que a dele, com o filme tenho a possibilidade de aumentar o debate num país que limita as oportunidades de debate. Não penso que isto explique assassínios, mas explica o desespero e outras coisas horríveis: o facto de cada vez mais e mais pessoas terem menos e menos. Esta é a história de um homem contra a sociedade e de uma sociedade contra um homem...".
Se fazer um filme esquecendo a «arte do cinema» e focando apenas o Presidente ou um outro político (à la Moore) já é mau, falar sobre um filme sobre os anos 70 e proveitar para falar mal de Bush é incrivelmente deselegante (o que não surpreende em Penn).

Embora diga que a América tem o «primeiro presidente anti-americano» (sic), Bush, o pior em Penn nem é o seu imaginário político, é a sua personalidade. Por muito fechado e arrogante que seja, por exemplo, De Niro, não o vejo a interromper o ambiente de entrega de Óscares para «manifestar desagrado» em relação a uma piada sobre Jude Law. Sean Penn é, por estas e por outras, comparável a outros mas, de certa forma, único em Hollywood. E, mais exclusivo ainda, é o facto de ter um irmão como Chris Penn: quem já teve o privilégio de ver uma entrevista sua compreende que é difícil ser mais castiço...



[João Silva]

Olhar dentro do espelho deu-me ideias

Olhar dentro do espelho deu-me ideias
do que seria um animal perfeito;
já penso transformar-me, ter maneiras,
asas talvez, ou tromba vigorosa;
dizer adeus aos fios, e adquirir
o encanto popular de um percevejo
ou o hieratismo de um louva-a-deus.
Ser outro é privilégio de quem tece
na face do destino um transparente
véu, e ao vão casulo
prefere a superfície de uma folha;
com muito estudo, poderei crescer
até figura de homem, se me der
para ser a ti mesmo semelhante.
Perder amigos e vizinhos, ver
À minha volta um assustado espanto,
posso aceitá-lo, se for esse o preço
de uma forma mais fina e elegante;
só me custa deixar, no chão da teia,
a arte de inventar que me conheço.
Melhor seria que mudasses tu; mas,
metamorfoso como és, não vais
cair na esparrela de trocar
o teu corpo que sabe a mar e luz
pela velha virtude de um insecto.
Diferentes assim, não vejo como
iremos construir casa comum;
talvez me deixes habitar o tecto,
e te deixe eu morar dentro do espelho.

- António Franco Alexandre, Aracne

[Paulo Ferreira]

quinta-feira, março 24, 2005

Por Outro Lado

O convidado da jornalista Ana Sousa Dias, no programa Por Outro Lado da 2:, foi um Miguel Sousa Tavares, diferente daquele Sousa Tavares ríspido, desagradável, que censura asperamente quase tudo o que provenha dos Estados Unidos de George W.Bush. Com efeito, Miguel Sousa Tavares limitou-se a fazer considerações sobre os seus livros e, como não poderia deixar de ser, sobre as suas estimulantes viagens. De certo modo, foi uma conversa bastante pedagógica para aqueles que assistiram ao programa. Através dessa conversa, os telespectadores tiveram a oportunidade de ouvir as confissões pessoais de um escritor não assumido sobre os seus medos e angústias, no que respeita à criação do «livro».

As confidências de Miguel Sousa Tavares, embora não reconfortem aqueles que ainda não passaram a fase da primeira criação, servem, pelo menos, como forte estimulante à escrita e, de certa forma, afastam, durante algum tempo, os censores literários portugueses das almas daqueles que ambicionam fazer da escrita a sua vida.

[Paulo Ferreira]

A Ilíada *

Quem teve que ler a Ilíada através da insípida tradução da versão francesa, compreenderá certamente o que representa a nova tradução da obra de Homero, feita por Frederico Lourenço a partir do grego. Esta nova tradução dará, concerteza, um novo fôlego a todos aqueles que gostariam de ler, ou reler, os feitos heróicos dos aqueus Aquiles, Ulisses, Diomedes, Menelau, Pátroclo, entre outros.



*A ler o artigo de José Pacheco Pereira, no “Público”.

[Paulo Ferreira]

Fora do Mundo

Parabéns ao Fora do Mundo, o melhor blogue nacional, pelo seu primeiro aniversário.

[Paulo Ferreira]

terça-feira, março 22, 2005

Qualidade

Freitas do Amaral desceu, mais uma vez, do Olimpo para dizer ao mundo que era um político cheio de qualidades, quase de excepção. Espero é que Freitas se lembre disso quando lhe apetecer falar sobre a «arrogância imperialista» de George W. Bush.

[Paulo Ferreira]

Editoriais

Segundo algumas mentes brilhantes, quem não lê editoriais em Portugal, não consegue fugir à mediocridade reinante. Sinceramente, não sei se existirá, neste país, algum editorialista que mereça ser lido.

[Paulo Ferreira]

Strike up the band



Stan Getz, Quartet & Quintet, 1950-1952

[João Silva]

segunda-feira, março 21, 2005

An Irish Airman Foresses His Death

I know that I shall meet my fate
Somewhere among the clouds above;
Those that I fight I do not hate,
Those that I guard I do not love;
My country is Kiltartan Cross,
My countrymen Kiltartan's poor,
No likely end could bring them loss
Or leave them happier than before.
Nor law, nor duty bade me fight,
Nor public men, nor cheering crowds,
A lonely impulse of delight
Drove to this tumult in the clouds;
I balanced all, brought all to mind,
The years to come seemed waste of breath.
A waste of breath the years behind
In balance with this life, this death.

- W. B. Yeats

[Paulo Ferreira]

Blurry mind

Carrega no «delete», que alguns dos teus problemas desaparecerão.

[Paulo Ferreira]

domingo, março 20, 2005

George Kennan (1904-2005)



«George Kennan, provavelmente o mais respeitado dos diplomatas norte-americanos.»
-Henry Kissinger

[João Silva]

A paixoneta de Sartre

Assinalando o centenário do nascimento de Sartre e Aron, muitos cronistas têm contraposto as posições políticas (mais do que «ideológicas») de cada um. Mas o maior conflito poderá nem estar num «território» tão amplo. Na verdade, o maior conflito que vejo, e sempre me fez pensar, é a viagem de Jean-Paul Sartre dos escritos «sofridos» e existencialistas para o elogio do Estalinismo.

Talvez um dos grandes mistérios autorais do séc. XX seja o caminho que liga um pensamento egocentrista, com ênfase no «eu» e nas «liberdades» humanas, a uma horrível paixoneta por todo um sistema, todo um mundo, que, sob Estaline, deu a machadada final em tudo o que era o Homem.

[João Silva]

Conversas

Conversar com alguém é, nos dias que correm, cada vez mais difícil. Pressupõe-se que o ser humano, quando nasce, já tem um grupo de amigos à sua espera com bandeiras e confetes. Julga-se que vivemos todos em constante partilha de sentimentos bonitos uns com os outros, que vivemos em sintonia total. Porém, desilusão das desilusões, a harmonia entre os homens não existe, assim como não existe a partilha de coisas como o amor. O amor nasce sempre dentro de um indivíduo e morre sempre dentro de um indivíduo. Pelo menos, é o que se sucede em sociedades progressistas como a nossa. O indivíduo pensa que viveu toda a sua vida feliz, rodeado de pessoas, e, no fim, apercebe-se de que toda a sua vida andou à volta do vazio.

Como afirmava no início, conversar com alguém é cada vez mais difícil. Diria quase impossível. É por isso que qualquer tipo de relação interpessoal é importante ( embora não seja grande apreciador). É por isso que, quando uma desconhecida nos pede uma informação no metro, lhe entregamos, cheios de luz nos pulmões, um singelo «obrigado». Por nos ter falado. Por nos ter salvo a vida por mais um dia.

[Paulo Ferreira]

sábado, março 19, 2005

Tout à droite

Nuno Rogeiro fala, hoje, na Sábado, sobre a direita. Recuperando um tema que chegou a abordar nos tempos da Futuro Presente, Rogeiro discute, no entanto, desta vez, a necessidade de sair do casulo. A necessidade de derrotar a Esquerda no seu «território» (actualmente, o «centro»), cada vez maior. Assim, reflecte sobre a combinação ideologia/política, ao invés de aceitar o infantil estandarte de «ideologia política», em tudo o que esta contém de orgulho clubístico (tão querido às facções de 1789). Como o próprio afirma: as políticas públicas deixaram de ser «ideológicas», não faz grande sentido dividir a realidade cívica em hemisférios, não se pode esperar que partidos e tribos sejam doutrinalmente «puros», e ainda menos dogmáticos, quando se trata de arregaçar as mangas e «fazer o que há a fazer», na paz e na guerra.

Rogeiro seria suspeito se tentasse desconstruir a actual «Esquerda portuguesa», mas não pode deixar de ser virtuoso quando retoma assuntos que lhe são familiares. Num pragmatismo cuja amplitude cabe ao leitor decidir, termina: (...) é possível que as «direitas», quando deixarem de se agitar e lamber as feridas, descubram que as pessoas comuns podem interessar-se pela política de outros modos. O poder das ideias, mas sobretudo das soluções para os males do tempo presente, é algo que não morde. Nem faz mal descobrir.

E ainda: Claro que os companheiros de caminho serão «mestiços». Os que procuram «pureza» que morram onde estão, no último quadrado, como o desmesurado General Custer.

[João Silva]

A política dos «pequenos passos»

Sem tomar atenção ao ambiente de «estado de graça», é importante, no entanto, ser honesto em relação ao governo de José Sócrates. Chegava, há dias, a uma conclusão prognóstica com um caro amigo: o novo Governo de José Sócrates (na minha opinião) poderá não ser tão mau como os indícios, naturalmente de decadente continuidade de «crise», previam, mas concordámos que, no fim do mandato, as grandes reformas, ou grandes mudanças, que se esperam há muito, continuarão por fazer, ou pior, por considerar.

Talvez o bras droit deste governo, e da sua «capacidade de acção», seja este mesmo estado de graça, deduzindo-se, daí, a sua celeridade em operar, logo nos primeiros momentos de «novo governo empossado», sobre a sempre debatida questão dos farmacêuticos, para além de outras menores. No entanto, as suas acções imediatas nestas primeiras semanas não são para ser levadas muito a sério no tempo que restar. Pois o executivo de Sócrates, tal como qualquer governo em Portugal, precisa de pressão para trabalhar, aliás, precisa de pressão política e parlamentar para ser honesto e, por conseguinte, permitirem-lhes que governem segundo Portugal e não segundo o «Povo», como estamos, infelizmente, habituados.

Portanto, as primeiras acções não podem ser o derradeiro ónus da missão institucional do XVII Governo Constitucional. As grandes questões - aquelas que são determinantes para, em definitivo, decidirmos se queremos estabilidade e crescimento - estão ainda na gaveta, com o pó dos últimos anos. A «administração pública» está, por agora, esquecida. A despesa parece estar ainda na fase do «estado de graça». Estado esse que, por ser tão apátivo e apreensivo, esperemos que não continue.

Infelizmente, por muito razoável que seja a governação dos próximos tempos, não me parece que o mais importante irá, sequer, ser decidido fazer. Decisão essa que, em Portugal, tem tradição milenar de demorar décadas a ser concordada.

[João Silva]

A Mentira

Numa semana em que a juventude se juntou na Torre do Tombo para «julgar» o Presidente americano, Vladimir Putin, o (quase) ditador russo, foi recebido em Paris pelos antiamericanos Jacques Chirac, Gerhard Schroeder e José Luís Zapatero. Pelas imagens a que tive oportunidade de vislumbrar, os sorrisos e abraços não faltaram. Ora, toda essa alegria trasbordante, que os plumitivos mandatários europeus deixaram trespassar para o exterior, é, no mínimo, de fazer corar de vergonha qualquer cidadão preocupado com o seu destino. Parece que estamos todos a assistir a uma peça teatral, já vista por demasiadas vezes. A Europa rejeita a América de Bush e abre os braços à perigosa Rússia de Putin. Só falta saber se, no futuro, o pai rejeitado terá de vir a correr para salvar o filho, que se meteu em confusões.

[Paulo Ferreira]

Right Nation


[Paulo Ferreira]

sexta-feira, março 18, 2005

Proencéfalo

«A crise é o ponto máximo da mudança», diz-me um vetusto senhor. Concordo de imediato, embora estejamos os dois a pensar em assuntos completamente diferentes.

[Paulo Ferreira]

A ler

O artigo de Vasco Pulido Valente, no "Público".

«Em França, o antiamericanismo e, subsidiariamente, o ódio à Inglaterra continuam a ser o fundamento da ortodoxia de Estado. Uma ortodoxia que, de resto, a França comunicou à "Europa" (ou, no mínimo, à "velha Europa", que não sofreu o comunismo) e que ameaça hoje dividir o Ocidente. »

[Paulo Ferreira]

Como se fosse Malena...

«Rebecca continuou a viver apartada da sociedade. Os conhecidos tinham deixado de a cumprimentar e quase nunca lhe dirigiam a palavra. Ao mesmo tempo, multiplicaram-se os olhares caninos e as críticas pelas costas. Quando caminhava, Rebecca, notava as alusões mais ou menos veladas e, às vezes, machos, que a tinham sempre comido com os olhos - era o passatempo deles passar as jornadas a cuidarem-se das mulheres bonitas - quando lhes passava pela frente, já não diziam as costumeiras chalaças acerca do seu corpo formoso, pois preferiam qualificar o seu comportamento.
"Olha a concubina", disse um deles

Oliver Friggieri, A Mentira

[Paulo Ferreira]

quinta-feira, março 17, 2005

O problema do silêncio

Costuma-se dizer que o grande problema urbano é a solidão (dos idosos, dos jovens incompreendidos, dos mendigos, entre outros). Discordo. A solidão pode não ser interpretada como uma questão que se propõe para ser resolvida. Pode até nem ser uma causa directa de infelicidade.Geralmente, quando alguém quer falar sobre solidão, tende a procurar razões para a explicar. No entanto, essas explicações não passam, na maior parte das vezes, de bacoquices.

Pensa-se que, quem se encontra indefinidamente desencontrado com o mundo exterior, precisa de um remédio para combater o torpor e a inércia. Pensa-se que é com sons fervilhantes e festas cheias de sentimentos bonitos que o «doente» se sente mais acompanhado.Porém, não se ousa pensar que a solidão só causa sofrimento e infelicidade porque não é acompanhada de silêncio. Não se ousa sonhar com a possibilidade de a solidão não ser trágica.É por não compreender que a «cura» para a solidão pode ser feita através de fortes doses de silêncio que a unanimidade continua afundada no seu estridente progressismo.

[Paulo Ferreira]

quarta-feira, março 16, 2005

Passeata dos Cem Mil

A «esquerda de passeata» vai fazer um «julgamento» na Torre do Tombo. Ao que parece, querem «julgar» os Estados Unidos. Rapaziada (sim, são todos «jovens») sem nada mais para fazer, quando a inteligência de tais «magistrados» já parece condenada à pena capital...

[João Silva]

A sátira ateísta

Desde criança, sempre me foi difícil fugir à religião. A sua existência, e impacto, no meio em que, inevitavelmente (como português), me encontro inserido, é inegável. Por isso, esconder-me debaixo da almofada não apaga a «culpa». A «culpa» está lá para todos nós. E Ele sabe.
Mas a questão não está em «acreditar» ou não no que há «depois» (ou «antes») de nós. Não está em «saber» o que há ou não há. Há coisas para as quais é irracional ser racional. E acaba por ser ridículo franzir a testa numa profunda reflexão, tentando descobrir o âmago da questão. Não há Verdade, não há paradigmas inalienáveis como em Ciência.

Mas a verdadeira sátira é interpretada pelas pessoas que acreditam que, tal como uma entidade que renegam, estão «acima» do que é irracional. Aquelas que «não sentem culpa». Aquelas que «estão bem consigo próprias». Diria, até, as mesmas que afirmam ser «frontais», serem «elas mesmas».
Resumindo, aqueles que (e benvindos sejam à mortalidade) não se interessam por Deus, pois «sabem» que não existe, sem conseguir compreender que a verdadeira questão não está em saber que ele existe, mas na Fé que cada um tem. Enfim, todas as pessoas que prescindem do Senhor como de um namorado possessivo: «Ele em mim não manda nada!».

[João Silva]

terça-feira, março 15, 2005

The Eternal Sunshine of the Spotless Mind

Joana Amaral Dias tenta ridicularizar Luís Delgado sem se aperceber de que, a unica coisa que a diferencia do «colunista» , é a aparência física.

[Paulo Ferreira]

segunda-feira, março 14, 2005

Menezes

Segundo notícia do "DN", Luís Filipe Menezes lança-se na luta contra o "aparelho". Pergunto: o que é, para Menezes, o "aparelho"?

[Paulo Ferreira]

Contra a unanimidade burra

Em 24 de Junho de 1968, Nelson Rodrigues escrevia, assim, no jornal O Globo:

«Apanho o jornal e vejo o telegrama: - Hollywood declara guerra à violência. São atores, atrizes, diretores, roteiristas. É uma unanimidade, mais uma unanimidade. Assim somos nós, todos nós. O nosso gesto, o nosso ódio e o nosso grito - já não precisam nascer na solidão. O homem quer ser irresponsável. Na hora do protesto, da ira, todos providenciam uma urgente unanimidade. Ninguém está só. Matamos e morremos em grupos, em hordas, em maiorias, em assembléias, em comícios.»

É que já cansa ver políticos dizer que «os Portugueses querem», que os «Portugueses escolheram» e que «os Portugueses sabem». O pior é quando Francisco Louçã e restante horda dizem que «os Portugueses já escolheram», e que «os Portugueses manifestaram a sua rejeição à aventura imperialista e belicista do cowboy Bush». Graças às frases de Louçã, Freitas e outros, tenho, hoje, vergonha de me afirmar português a pessoas de outros países.

Pois este blog reafirma o seu empenhamento na sua luta contra a unanimidade burra, dentro de partidos, países, governos, grémios ou mesas de café.

[João Silva]

O Golias Oriental

Ao que parece, a questão de Taiwan (em relação à sua soberania) deixou de ser meramente política. Hu Jintao vai partir para a «ponderação» de outros métodos (e, ao contrário da ONU, a «ponderação» chinesa costuma ser rápida e sumária). Segundo o DN (sem link), a China considera, seriamente, a recuperação do território de Taiwan, «perdido», segundo consta, desde 1949, data curiosa...

Sendo a política internacional muito delicada quanto à Ásia Oriental, é mais uma razão para pensar no que poderá ser a China daqui a uma ou duas décadas. Pois a economia (no mercado interno e externo) indica sinais de crescimento em bruto, mas as mentalidades chinesas mantêm-se, de forma significativa e tenebrosa, sensivelmente as mesmas desde o aparecimento do senhor Mao.

A minha proposta é que não viremos as costas ao que se passa naquele país. Para que não se cometa o mesmo erro que se cometeu, em relação à Coreia do Norte, depois da guerra da década de 50.

[João Silva]

domingo, março 13, 2005

Zeus e Hefesto

Começo por dizer o óbvio: a política é feita pelo Homem e para o Homem. Tanto assim é que, os melhores políticos, são, na maior parte dos casos, os homens mais vulgarizados pela unanimidade. Ronald Reagan, por exemplo, por mais cretino que fosse para a opinião pública da sua época, é hoje considerado um dos melhores presidentes que os Estados Unidos já tiveram. Provavelmente, acontecerá o mesmo com George W. Bush.

Porém, os políticos que o «público» gosta de admirar não são os que pensam como os homens, os que agem como homens. Pelo contrário, os políticos a que a multidão gosta de prestar culto são os que se aproximam dos deuses, os que só descem do Olimpo para fazer um favor à «pátria». Um exemplo vociferante disso mesmo é Freitas do Amaral. De facto, o senhor não se presta aos hábitos mundanos, não ri, não chora. Talvez nem coma. Todo ele é pose. Todo ele é génio. Contudo, Freitas do Amaral é um político falhado. Isso mesmo, um político falhado. Afinal de contas, quantas eleições já ganhou o homem? O que é que ele já fez pelo seu país e pelo mundo? Nada. No entanto, apesar de ser um péssimo político, ninguém olha para Freitas com descoroçoamento.

[Paulo Ferreira]

sábado, março 12, 2005

Hallelujah

Por muito que goste de Leonard Cohen, não consigo deixar de preferir o Hallelujah de Rufus Wainwright.



[Paulo Ferreira]

A ler

Para quem gosta de livros. A ler o artigo, muito bom, de Umberto Eco, publicado no DN de hoje.

«Todos sabemos que se podem comprar livros pela Internet e o primeiro nome que vem à memória é o da Amazon. (...) Algumas pessoas questionam se isto não pode levar à redução do negócio das livrarias. Eu penso que não, pela mesma razão que (se estivermos com pressa) podemos encomendar tudo o que precisamos de um supermercado online. Mas é não tão divertido como ir às compras quando temos tempo para o fazer.»

[João Silva]

Keane

Sobre o concerto dos Keane, a 10 de Março:
«(...)Se não fosse a primeira parte a cargo de Rufus Wainwright, a noite de quinta-feira teria sido um verdadeiro calvário para todos os que queriam mais que doses básicas de três minutos de pop fácil para consumo de meninas de liceu.»

-Nuno Galopim, DN, 12/03/2005

[João Silva]

Patologias

O Pedro Mexia sente-se vítima de qualquer problema clínico preocupante: não resiste ao Victory (Fuga para a Vitória). Esse mesmo, o filme sobre futebol/II Guerra Mundial/Resistência Francesa/fugas de prisão/Stallone, realizado pelo John Huston. Sente-se mal por não saber deixar o vício. Eu compreendo-o perfeitamente. Também o vi bastantes vezes. Até o facto de por lá andarem Pelé, Bobby Moore e Ardiles a «dar um pezinho» como actores não consegue tirar piada ao filme. A atracção do filme é tão misteriosa que até Stallone lá aparece como guarda-redes, e nós gostamos...

PS- deixando os filmes maus, e falando a sério, o melhor filme sobre fugas de prisão é, sem dúvida, o The Great Escape, do John Sturges. Além de ser um excelente filme e um excelente argumento, tem o mítico Steve McQueen. Esse sim, vejo vezes sem conta.



[João Silva]

O engenheiro e o futuro

Desejo o melhor para o PS. Confesso. Quero ver o engenheiro Sócrates fazer de nós pessoas melhores. Fazer de Portugal um país mais bonito, com telemóveis apetrechados e internet sem fios. A verdade é que sou um sentimental. Mais, um pretensioso à portuguesa. Dizia Kafka que «só existe um destino, nenhum caminho», que aquilo «a que chamamos caminho é hesitação». Kafka não errou, Portugal continua na senda de um destino importante: um fim digno. A decadência de Portugal está fora das nossas habilidades humanas para salvar o país. Que feremos, então, no tempo que nos resta?

O que podemos fazer, tal como Sócrates bem percebeu, é fornecer as ferramentas para um final feliz. Para os últimos dias no «corredor». Para uma última refeição. Porque acredito em Sócrates, digo: os 150 mil empregos serão criados, tenham paciência. Têm mesmo de ser, nem que sejam na função de assistência, aplaudindo o Governo e dando sinais de optimismo desesperado aos portugueses - agora que todos temos internet, ninguém nos pára.

[João Silva]

O fracasso é eterno

Vivemos, sem dúvida, num país eternamente condenado ao fracasso. Não há salvação possível. E esta danação é fácil de perceber. Está à vista de todos nós: colocamos a fasquia demasiado alta, não temos consciência do quão pobres e desgraçados somos, tanto os portugueses, como essa sub-classe dos portugueses, que são as pessoas. A maior prova de que nunca atingiremos objectivos está nos nossos cinemas. Só em Portugal é que o wishful thinking se apodera do novo filme de Kevin Spacey para o integrar no programa de governo de José Sócrates. Bobby Darin - Beyond The Sea, filme chic, larger than life, passou, subtilmente, para um título tão à nossa moda: Bobby Darin - O Amor é Eterno.

[João Silva]

Jornalismo e terrorismo

«À primeira vista, a história não parecia complexa. Como tantos outros colegas de ofício ou circunstância, a jornalista [a italiana Giuliana Sgrena] fora raptada pelos assassinos que formigam no território iraquiano, e a que o código deontológico do jornalismo moderno manda chamar «resistentes». Trata-se, porém, da enganadora superfície, sob a qual rastejam os culpados do costume. Os «resistentes», afinal, até são gente agradável, forçada pelo «contexto» à degolação de transeuntes. Não nos deixemos enganar.»

-Alberto Gonçalves, in Sábado, 11/03/05

[João Silva]

Leituras

«Essas palavras novas, o meu amor ouvia-as; elas persuadiam-no de que o dia seguinte diferente do que haviam sido todos os outros dias, de que o sentimento de Gilberte por mim, demasiado antigo já para poder mudar, era a indiferença, de que a minha amizade com Gilberte era apenas eu a amar. “É verdade” respondia o meu amor, “não há mais nada a fazer dessa amizade, ela não irá mudar.” Então, logo no dia seguinte ( ou esperando por uma festa, se havia uma proximamente, por um aniversário, porventura pelo Ano Novo, por um desses dias que não são iguais aos outros, em que o tempo recomeça de novo rejeitando a herança do passado, não aceitando o legado das suas tristezas), eu pedia a Gilberte que renunciasse à nossa amizade antiga e lançasse as bases de uma nova amizade

- Marcel Proust, Em busca do Tempo Perdido

[Paulo Ferreira]

sexta-feira, março 11, 2005

Um velho problema no castelo do Barba Azul

O barulho é, nos nossos dias, um dos grandes entraves ao desenvolvimento intelectual, individual e colectivo. Através do barulho nasce a multidão. Através do barulho nasce a unanimidade que, como diria um cronista famoso, é sempre burra. O barulho perturba o raciocínio e impede o aparecimento de qualquer tipo de cultura baseada no pensamento individual.

Citando George Steiner, « Quando um jovem percorre uma rua de Vladivostoque ou de Cincinnati com o seu transístor ligado, quando um automóvel passa com o rádio no máximo, a cápsula de som resultante fecha-se em torno do indivíduo. Reduz o mundo exterior a um conjunto de superfícies acústicas

[Paulo Ferreira]

As árvores

«Porque somos todos como troncos de árvore na neve. Estes, em aparência, estão apenas pousados, de tal forma que um pequeno empurrão seria suficiente para os fazer rolar. Mas não, é impossível, estão bem seguros ao solo. E até isso não passa de uma aparência.»

-Franz Kafka, Contos

[Paulo Ferreira]

Vitória

Percebe-se que o Vitória é um grande clube, e mais do que um clube de futebol, quando duas pessoas que se odeiam politicamente fazem as pazes e acabam a conversa, sobre a equipa, com sorrisos melosos.

[João Silva]

Adeus Lenine

Na Quadratura do Círculo, José Magalhães trava uma luta ingrata contra uma maré ideológica. Carlos Andrade, Pacheco Pereira e Lobo Xavier não se inibem de provocar Magalhães e pedir-lhe que se cale. E razões não faltam para contrariar este senhor. Magalhães é irritante, interrompe a argumentação dos outros, interrompe as conversas dos outros, troça das opiniões dos outros, julga-se dono de uma Verdade institucional (agora, sim, institucionalizada), contrai a cara, acusa Lobo Xavier e Pacheco Pereira, mente, defende o Partido Socialista a todo o custo, como uma doença crónica.

Enfim, José Magalhães parecia dispensável. E digo bem - parecia. Pois agora, que segue para o governo, para assumir, se não me engano, o cargo de Secretário de Estado da Administração Interna, sinto que faz lá falta. Mesmo entrando Jorge Coelho para o mais descarado lugar propagandístico do PS (a par da coluna de Augusto Santos Silva no Público), aquela cadeira vai sempre parecer um pouco mais vazia.
Os «inimigos» são o nosso maior vício. Ficamos impotentes sem ele. Portanto, José Magalhães, curiosamente, vai deixar saudades, em especial aos que o detestaram durante anos. Eu, pelo menos, já tenho saudades.

[João Silva]

Parêntesis na misantropia

Se tivesse de escolher apenas um filme do mestre Woody Allen para levar para o fim do Mundo, escolhia Celebrity. Ao contrário do que muitos dizem, este não é um filme menor. Falta, talvez, a personalidade carismática do «actor» Woody, e já será razão suficiente para muitos. No entanto, dou-vos três razões que contrariam essa contrariedade: o grande Kenneth Branagh, a «nossa» Winona Ryder e, não menos importante, Famke Janssen (por sinal, um talento à deriva). Fica aqui um idílio silencioso...



[João Silva]

Lido

Pedro Mexia, hoje, no DN:

«Quem vende tão pouco como os poetas não tem que se preocupar, como fazem por exemplo os romancistas, com o "mercado". Uma vez que se sabe que a poesia não vende, os poetas ficam dispensados dos estratagemas promocionais e comerciais mais correntes para a ficção. Os livros de poemas não recorrem a capas garridas, não têm cintas a dizer "anunciado na televisão", não gozam de propaganda de página inteira nos jornais. Há excepções, mas apenas confirmam a regra. No entanto, mesmo essas excepções não são excepções do ponto de vista comercial.»

[João Silva]

Loser

O Babugem continua a citar Paul Johnson, The Art of Writing a Column. Aproveito para roubar uma frase: In the battle for life, the good columnist is a natural loser, albeit a perennially optimistic one.

[João Silva]

quinta-feira, março 10, 2005

Despeço-me da terra da alegria

Há versos que, só por si, valem a compra de um livro. Bom exemplo disso são estes três versos de Ruy Belo: « Sorri sofri a noite era já negra/ o amor é coisa débil fugitiva/ onde não cabem coisas sedentárias».

[Paulo Ferreira]

Lisura na Europa

Há uns meses atrás, quando alguma mente, mais descuidada, se lembrava de referir, por algum acaso, o presidente americano, George W. Bush, a unanimidade esgotava-se em risotas boçais. Hoje, passa-se exactamente a mesma coisa. Fala-se em Bush e a multidão perde-se em sorrisos. Bush vem à Europa e a multidão pensa que o homem vem pedir perdão, ou desculpas, aos seus poderosos «parceiros» europeus. Ou seja, passam-se os meses e a Europa continua fechada dentro da sua bolha antiamericana, sem perceber que, afinal, Bush poderia não estar tão errado quanto se pensava sobre coisas tão complexas como a liberdade individual. É, de igual modo, por não perceber que as coisas vão melhorando no Iraque, no Afeganistão, etc., que a Europa continua agarrada às armas de destruição maciça e aos, inevitáveis, soldados e jornalistas mortos.

Como refere Luciano Amaral, no DN, « Enquanto continuam a recensear os "bushismos" do imperador maníaco, os europeus não repararam na substância intelectual do seu discurso de tomada de posse. Um discurso onde ecoou a tradição filosófica do "direito natural, a qual remonta ao republicanismo democrático da Antiguidade Clássica e passa pelo seu equivalente moderno, presente em Maquiavel, Locke, Montesquieu ou nos próprios "Pais Fundadores" da república americana.

Um dicurso que nenhum líder europeu, refém do humanismo simplório que por cá vigora, seria capaz de conceber. E um discurso que oferece uma perspectiva simultaneamente radical e realista de transformação do Médio Oriente e, consequentemente, do mundo islâmico e, logo, de todo o mundo. Os europeus não o perceberam e, por isso, não percebem o que se está a passar.»

[Paulo Ferreira]

quarta-feira, março 09, 2005

Esplanadas

Um sofrimento parecia revelar
a vida ainda mais
a estranha dor de que se perca
o que facilmente se perde:
o silêncio as esplanadas da tarde
a confidência dócil de certos arredores
os meses seguidos sem nenhum cálculo

por vezes é tão criminoso
não percebemos
uma palavra, uma jura, uma alegria


-José Tolentino Mendonça, Baldios

[João Silva]

She broke your throne


[Paulo Ferreira]

terça-feira, março 08, 2005

Tomorrow!

And tomorrow the sun will shine again.
And the path that I follow
will bring us together again,
here on this earth, brimming with sunshine.

And down to the far-reacing beach with blue waves,
we will silently and slowly go.
Wordlessly we will look into each others' eyes,
and upon us shall descend the quiet joy of silence.


- John Henry Mackay (1864-1933)

[Gonçalo Simões]

segunda-feira, março 07, 2005

Small talks

Não me considero de esquerda. Não «pertenço» ao PP. Não gosto de Freitas do Amaral. Portanto, serei insuspeito por afirmar que o malabarismo, de Mota Soares e de «alguns outros» (we few, we happy few) dirigentes e rapazolas do PP, de mandar o retrato de Freitas do Amaral para a sede do PS, é ridículo e contraria a pose de estadista que Paulo Portas, ainda há um mês atrás, tentou fazer passar como exemplo de um membro do Partido Popular.
O que fazem com o retrato de Freitas não interessa a ninguém, mas penso que nos interessa a todos «gravar na memória», recordar, e não esquecer, preocupações menores de gente medíocre que anda a orientar um dos partidos mais importantes na política portuguesa.

[João Silva]

Frontal

Segundo o DN de hoje, uma popular de Amarante, «apoiante» do exclusivo Avelino Ferreira Torres, quando compareceu para as viagens de helicóptero que o senhor Avelino promoveu, elogiou-o: «Admiro-o por ser frontal, não tem papas na língua (sic)». Aliás, qualidades muito úteis para, de igual forma, vencer concursos de televisão e ganhar autarquias no Norte do País.

[João Silva]

domingo, março 06, 2005

Gama, Coelho e Vitorino

A grande questão do governo que «Sócrates compôs», ou melhor, que o aparelho do PS atribuíu (como uma espécie de Academy Awards, nos quais Freitas recebeu o «prémio» mais sincero e digno do nome) reside na ausência de algumas personalidades que acompanharam a campanha política de José Sócrates desde o início, mesmo com uma ou outra perturbação pelo meio. Jaime Gama, Jorge Coelho e António Vitorino talvez sejam as três figuras mais faladas em relação a tal «ausência», mas, penso eu, com alguma precipitação.

Jaime Gama é «cá de casa». Talvez seja, actualmente, o membro do Partido Socialista que mais respeito, por nenhuma razão visível em especial. Gama é um político inteligente, de carácter, e um «embaixador» habilidoso, que, tenho a certeza, faria muito mais e melhor do que o «perigoso» Freitas do Amaral na pasta dos Negócios Estrangeiros (Freitas dar-nos-à um mundo de dissabores caso Condolezza Rice tenha lido o seu magistral e seríssimo Do 11 de Setembro à crise do Iraque). Mas, num Portugal «europeu» e «bom menino» à imagem de José Sócrates, Jaime Gama não teria lugar. A Assembleia será, assim, o reconhecimento solene da sua importância e carreira.

Jorge Coelho e António Vitorino são os dois trunfos do PS desde há alguns anos. Surgem sempre na altura das decisões, na altura de aparecer «em família» perante o «Povo». Se não estiverem nesse momento, os portugueses desconfiam de turbulência no partido. Um carrancudo, temente a Deus, sério, firme e honesto, o «português perfeito», o honrado homem dos comícios e das gritarias finais, Jorge Coelho, sorumbático mas carismático. Outro, António Vitorino, «sábio», «racional», «equilibrado», vista a sua superioridade moral legitimada pela UE, surge-nos agora com um risinho cínico e com um lápis sempre apontado à opinião pública, sempre pronto a corrigir, à velha maneira de Sean Penn, as injustiças que não correspondem ao seu conceito de justiça.
Estão ambos fora das pastas deste Governo, mas estarão mesmo fora da corrida do PS às eleições dos próximos anos? Jorge Coelho será, provavelmente, o «suplente de luxo» para os problemas que se adivinham (é normal) nos diferentes Ministérios nos próximos tempos - e toda a gente se comove quando Coelho surge em socorro do PS. Vitorino, ao que parece, aponta para a Presidência.

O que nos leva ao outro ponto. Como estará o PS a ponderar a «substituição» de Sampaio? Vitorino ou Guterres? Frente a um Cavaco Silva - sempre clarividente e austero como Leonard Nimoy, a roçar os 60% em sondagens, e a tentar adiar, para o último momento, a sua entrada triunfal -, os possíveis candidatos socialistas, ambos ainda a cheirar a «guterrismo» mal corrigido, parecem ter poucas hipóteses, se Sócrates não fizer os portugueses chorar de alegria pela eficácia e habilidade socialista. Como se sabe, governos de despesismo social sempre convencem, nos primeiros tempos, os indecisos das «classes média e baixa». Os impostos vão subir. A despesa pública, portanto, salvo alguma curiosidade sincera por Campos e Cunha, adivinha-se alta. A dedada de Guterres ainda não desvaneceu. Manter-se-à até à Presidência? O facto é que andamos muito distraídos, pois ninguém neste governo foi «deixado de fora». É esperar para ver...

[João Silva]

Temo bem que Freitas discorde disso...

«George W. Bush e a sua administração cometeram erros importantes ao longo dos dois últimos anos. Mas, tal como aconteceu com Ronald Reagan, no início dos anos 80, Bush tem razão ao nível daquilo que é verdadeiramente importante

Miguel Monjardino, "Sábado"

[Paulo Ferreira]

Candidaturas

Se nada se alterar nos próximos tempos, teremos apenas duas candidaturas à liderança do PSD. Ora, nem Marques Mendes nem Luís Filipe Menezes preenchem as condições mínimas para serem bons líderes de um partido que tem ambições de governar. Sobre Luís Filipe Menezes não vale a pena gastar palavras. Por outro lado, Marques Mendes, apesar de ser inegavelmente um político sério e respeitável, não é, na minha opinião, um político que consiga alterar a trajectória que o PSD levou nos últimos dez anos. Assim sendo, resta esperar que apareçam novas candidaturas.

[Paulo Ferreira]

Abismo

Um pátio ou um pulso,

a morte como a casa atravessada
por um nervo,

o abismo soprado sobre o nome.

Jorge Melícias, A luz nos pulmões

[Paulo Ferreira]

You don't know me



[João Silva]

sábado, março 05, 2005

Freitas do Amaral

Lançados para a imprensa os nomes dos novos ministros de José Sócrates, fica uma surpresa: Freitas do Amaral. Os méritos desse senhor no que respeita a assuntos jurídicos são bastante conhecidos. A sua importância para o nascimento e consolidação da débil democracia portuguesa é, de igual modo, respeitável. Porém, a colocação de Freitas do Amaral, o político de extrema-esquerda, como ministro dos Negócios Estrangeiros é, no mínimo, preocupante.

[Paulo Ferreira]

«Fraternidade europeia»

Shermine Shahrivar

[Paulo Ferreira]

Quatro caprichos

Perdoa, não sabia que cantavas
em sossego, silenciosamente. Neste calor
é preciso beber água gelada; também convém
não adorar ídolos, por exemplo a imagem
que aí trazes de ti e te atormenta
(ou me atormenta a mim?).
Outros exemplos incluem jardins de babilónia,
erupções do etna, o efeito
afrodisíaco do diamante,
as ciências da educação.
Vou-me sentar aqui, respirar até doer
as coisas possíveis nunca reais,
aprender, nó a nó, como te soltas;
vamos cair num poço, sem
bússula e pára-quedas, vamos ser o primeiro
amor a dois no mundo.


António Franco Alexandre, Quatro Caprichos

[Paulo Ferreira]

I can’t take my eyes of you

Vasculho o livro da memória, em busca, quem sabe, de uma página perdida que me faça lembrar do sabor da tua presença.


[Paulo Ferreira]

sexta-feira, março 04, 2005

A última tentação de Freitas

Sobre a composição (já revelada) do próximo governo de José Sócrates, não há muito a dizer, senão que já se esperava encontrar, independentemente dos cargos atribuídos, tais personagens neste governo. Apenas uma nota «em especial»: Freitas do Amaral será o próximo Ministro dos Negócios Estrangeiros.

Que Freitas não era de Direita já todos sabíamos, aliás, sempre soubemos, apesar da tendência, do CDS, em apelar ao eleitorado mais conservador. Mas que este daria uma volta tão grande e tão ampla ao leque partidário em busca de poder e projecção pública e pessoal, nada fazia prever. Agora acredito, piamente, no que afirmei há poucos meses: Freitas é um político sem escrúpulos, sempre em busca de «veículos políticos», sejam eles quais forem. Antes foi o CDS para chegar ao Governo, há tempos juntou-se a Louçã para «marchas» e iniciativas públicas, agora é o PS para voltar a um Governo, e desta vez para ficar, em tempos de menor turbulência e de mais consciência democrática. CDS, BE, PS. Que aventura se seguirá? Qual é a próxima carta na manga do Dr. Freitas do Amaral?

O pouco de respeito político (pela «pessoa política», já que a importância do senhor no meio judicial é inegável, e não conheço a «pessoa») que tinha pelo Dr. Freitas do Amaral, se é que ainda o tinha, extinguiu-se. Não posso sentir nada senão aversão a alguém que defendeu, com «isenção» e «independência», a necessidade e importância de atribuir uma maioria absoluta ao PS, e agora surge num lugar de destaque no mesmo governo, que acabou por ser eleito. O Dr. Freitas do Amaral devia ter vergonha ou, no mínimo, respeito para com aqueles que votaram, em tempos, no seu CDS - antigos eleitores que, hoje, vão dormir mal...

[João Silva]

Ano novo, Governo igual

XVII Governo Constitucional:
Ministro de Estado e da Administração Interna - António Costa
Ministro da Economia - Manuel Pinho
Ministro da Presidência - Pedro Silva Pereira
Ministro do Trabalho e da Solidariedade - Vieira da Silva
Ministro da Defesa - Luís Amado
Ministro de Estado e das Finanças - Luís Campos e Cunha
Ministro das Obras Públicas - Mário Lino Soares Correia
Ministro da Saúde - António Correia de Campos
Ministro da Justiça - Alberto Costa
Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros - Freitas do Amaral
Ministra da Cultura - Isabel Pires de Lima
Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior - Mariano Gago
Ministro dos Assuntos Parlamentares - Augusto Santos Silva
Ministro do Ambiente - Francisco Carlos da Graça Nunes Correia
Ministra da Educação - Maria de Lurdes Rodrigues
Ministro da Agricultura, Desenvolvimento Rural e das Pescas - Jaime Silva

[João Silva]

quinta-feira, março 03, 2005

Void

Hoje, esqueci-me de como era a tua voz. Amanhã, serás um pouco menos, sem o saberes. Sem face, sem fotografias, sem direcção, sem nome. Serás apenas a minha única dor, uma página gasta e rasurada, sem estórias para contar.

[João Silva]

Janela insubmissa

A janela do teu quarto, sempre vazia. O frio imenso, que me dilacera a pele cansada de esperar pelo teu regresso. A solidão.

[Paulo Ferreira]

A ler

O post de Eduardo Pitta, no da literatura.

[Paulo Ferreira]

Another way around you


[Paulo Ferreira]

quarta-feira, março 02, 2005

«Xingar os Estados Unidos dá mulher!»

«Não há, pois, liberdade nos Estados Unidos, dentro dos Estados Unidos. Quem o diz e, com sólidas razões, é o dr. Alceu. Vejam vocês: - cem mil sujeitos vão ao Pentágono protestar contra a guerra. Não lhes acontece nada, ninguém quebrou a cabeça, ninguém foi preso. »

Nelson Rodrigues, O óbvio ululante

[Paulo Ferreira]

Aversão a Sócrates

Subscrevo a aversão do Bruno a José Sócrates. Mais, por mim, o consumo de antidepressivos vai aumentar nos próximos anos para 50%. A minha parte de ansiolíticos já está no bolso.

[Paulo Ferreira]

Meio-termo

Depois da escandalosa derrota do PSD nas eleições legislativas, algumas vozes insurgiram-se contra o facto de o partido estar a desviar-se para uma Direita funesta. Ora, o PSD, de Durão Barroso e de Santana Lopes, nunca esteve em vias de desaparecer enquanto partido de centro-direita ou de centro-esquerda, já que nenhum desses "centros" existe. Por outro lado, o PSD também nunca esteve em risco de ser arrastado para os confins da estrema-direita. Santana Lopes e Durão Barroso eram populistas. Mas não chegavam a ser de Direita.

Dado que a social-democracia nunca existiu realmente em Portugal, é difícil concluir-se que, após uma derrota estrondosa, o PSD tenha uma grande necessidade de voltar ao centro. O PSD, enquanto partido reformista, pode voltar a ser o partido moderado que foi num passado distante. Mas não pode ser algo que nunca existiu.

[Paulo Ferreira]

terça-feira, março 01, 2005

Picture of mankind

É sempre assim com essas almas magníficas à moda de Schiller: vestem o homem, até ao último momento, com penas de pavão, acreditam, até ao último momento, no bem e não no mal; e, embora pressintam o reverso da medalha, nunca na vida pronunciam a palavra verdadeira, só pensar nela as escandaliza; rejeitam teimosamente a verdade até chegar o moento em que o indivíduo por eles embelezado os deixa com um nariz de palmo e meio.

-Fiódor Dostoiévski, Crime e Castigo

[João Silva]

«Suicida mata mulher e filho»

Há uns tempos, andava com algumas incertezas sobre a verdadeira forma de actuação do assassino português.Hoje, ao ler a manchete de um jornal gratuito, percebo tudo. Como diz Miguel Esteves Cardoso, "O que mais notabiliza o assassino português é já estar morto".

[Paulo Ferreira]