segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Três reflexões

1) O Partido Socialista teve, ontem, uma claríssima vitória nas eleições legislativas. Diria mesmo, uma «esmagadora» vitória sobre um destroçado e virtualmente (sublinho virtualmente) dividido PSD, no sentido em que estabaleceu, à partida, uma sólida base «de esquerda» para as próximas eleições, sejam as que vierem daqui a 4 anos, sejam as que vêm já para o próximo ano. Pela forma de ser e de estar de José Sócrates e pelo legado ideológico guterrista que ainda não se dissipou, só há mesmo dois destinos para este novo governo socialista: ou rapidamente mostrarão sinais de inexperiência ou instabilidade (pouco provável, devido à significativa representação parlamentar), ou lá ficarão por muito tempo;

2) Quanto aos partidos «menores», em termos de representação prática e quantitativa, não posso esconder alguma surpresa. O CDS/PP não teve o crescimento que se esperava e que Portas esperava. O Bloco de Esquerda está, lamentavelmente, em festa, festa essa que dirige a escolha política das suas camadas mais jovens. A CDU, por sinal, não me surpreendeu especialmente. Jerónimo de Sousa foi a escolha ideal para um partido que se dizia em queda - não abrandou essa tendência, mas mostrou que os «velhos comunistas» ainda têm um pouco mais para mostrar do que o elogio cego e fanático das nomenklaturas resistentes por esse mundo fora -, e que se revelou, afinal, um partido de maior importância, mesmo para quem só conhece Estaline dos livros infantis;

3) Quanto à clamorosa derrota do PSD, nada há a dizer. O que se poderia dizer, foi dito, incansavelmente, ao longo dos últimos tempos. A vitória do PS em muito beneficiou de dois factores surpresa: o «factor Durão Barroso na Comissão Europeia», e o infalível «factor Santana Lopes». O golpe final de Santana ao já confuso PSD foi brilhantemente eficaz, despoletando (espera-se) uma renovação das expectativas e uma definição ideológica mais determinada. O golpe letal dos eleitores a Santana é que não parece ter sido suficiente para o ex-primeiro-ministro compreender a falta que não faz ao partido. A lealdade e vontade são admiráveis, mas já faz falta alguma inteligência e experiência aos líderes do PSD. António Borges e Marques Mendes (finjo memória curta pelo bem da direita) podem-se avistar já nas próximas semanas. Esperam-se. E, até lá, lamentamo-nos.

[João Silva]