quarta-feira, fevereiro 23, 2005

Líderes, Messias e Sonhadores

Menezes nunca desistirá. Essa é uma verdade inquestionável. Menezes nunca desistirá da «ascensão» no interior do partido. Não me surpreendo (aliás, só um cego o faria) - Luís Filipe Menezes é o típico populista autarca-cacique-oportunista. Não se trata de uma ofensa pessoal. O senhor não me causa repulsa. Estar associado ao PSD ou a um partido de esquerda é-me igual, tal como será, provavelmente, igual para o próprio Menezes, que vê no partido um «emprego» seguro. O que me ofende é que Menezes se esteja, de momento, a preparar para aliciar os caciques sociais-democratas abaixo de si na «hierarquia» (normal nos partidos «mais perto do centro») e, pior, que se sinta capaz de ganhar apoios, depois das incontáveis campanhas que promoveu contra Lisboa e contra tudo o que não lhe agradava no PSD (e contra tudo o que não lhe era favorável).

Manuela Ferreira Leite, para além de ter a minha simpatia pessoal, e o meu apoio cívico e político, é, por outro lado, a «candidata perfeita» do ponto de vista das reformas. Mas será que essa «perfeição» faz parte do perfil adequado de momento? A Ferreira Leite, eminente Ministra nos últimos governos do PSD (Cavaco e Durão), falta-lhe, talvez, algo que Marques Mendes, entre outros, terá como prioridade: o «ataque político». Ferreira Leite é auto-confiante, teimosa, trabalhadora, pouco crente em milagres e muito leal à perseverança, sua e dos que a rodeiam. Mas é uma personalidade de trabalho, «cavaquista», pouco dada, parece-me, a liderar uma oposição. Mesmo que essa tarefa não implique o «confronto directo» na Assembleia e nos locais próprios, confronto esse muitas vezes deixado para alguns deputados e para o «líder da bancada». Manuela Ferreira Leite não é a «Dama de Ferro portuguesa», alcunha ridícula que lhe tentam associar. Mas é, actualmente, a opção mais forte no seio da experiente elite do partido. Infelizmente, e também porque, provavelmente, não se irá candidatar, não terá o sentimento «agressivo» e determinado que será necessário na Assembleia.

Por isso, volto a Marques Mendes. Sem fé, e sem a cínica admiração pessoal, vejo em Marques Mendes uma personalidade forte e essencial para dar ao partido o núcleo forte que se precisa. Discordo do meu caro amigo Bruno Alves quando afirma, em relação a Marques Mendes, que «Talvez pudesse permitir bons resultados nas autárquicas, mas o PSD que o país precisa não é um que têm apenas em mente ganhar eleições». Há que não desvalorizar a «capacidade de ganhar eleições», capacidade essa imprescindível nas «equipas» de grandes líderes. Visto que, em Portugal, não temos e, ao que parece, tão cedo não teremos, «grandes líderes», resta-nos a «esperança» na constituição ou orientação de um partido de direita mais próximo do «ideal» de direita que falta em Portugal: uma direita séria, liberal, moderadamente conservadora (Portugal é, irremediavelmente, o próprio Estado - já não vivemos sem ele). E, num eleitorado mais devoto à demagogia dos partidos de esquerda, há que ter meios para fazer as pessoas reflectir e acreditar numa via diferente. Mesmo que Marques Mendes tenha uma tendência para as relações próximas com os representantes locais do partido (bom para as eleições autárquicas), estou confiante na sua capacidade para gerir influências e moderar as atenções para com os caciques (bom para a organização e integridade do PSD).

Falar de qualquer um destes candidatos é, simplesmente, falar sobre uma direita que se quer. E tenho a certeza que Menezes não faz parte de uma direita «que se quer», tal como Santana (o Pedro de Luís Delgado...) não fazia. Pelo menos para mim. Mas há, ainda, tempo para ver quem chega e quem se apresenta disponível para a liderança. Temos de esperar para ver.

[João Silva]