sexta-feira, janeiro 07, 2005

Sair com a Maria

"Sair" é um verbo, no mínimo, bastante sugestivo. Pelo menos, quando me lembro da palavra fico nostálgico, já que poucas são as vezes que transponho a porta de casa para me pôr em qualquer lugar diferente. Porém, a palavra sair, quando é usada no lugar de divertir, implica uma porção infinita de sentimentos e de ilusões do género: "Será que a Maria vai lá estar hoje?"," Como estará ela vestida?". Desde logo, o indivíduo que pensa em sair, como se fosse festejar, pensa na Maria e sabe que a dita vai lá estar (ela e os restantes dipsomaníacos patrocinados pela cervejaria local), o que lhe provoca sofrimento. Sofrimento e alegria. Ou, uma mistura destes dois sentimentos, que se traduz em timidez. Sofrimento, por saber que a Maria nunca será dele. Alegria, por sonhar com o rasto da donzela. Timidez, por lhe faltar a coragem para tudo.

Portanto, sair não é fácil (ou não é tão fácil como entrar). Para se sair,é necessário que o sujeito em causa esteja disposto a tal. E, para estar disposto a tal, é necessário que perca a timidez e também que esqueça uma parte substancial do seu passado intelectual (se esse passado existir).

[Paulo Ferreira]