quarta-feira, dezembro 08, 2004

Vitorino de pés alados

Um dos trunfos já apresentados, à pressa e sem pudores, por José Sócrates para Fevereiro, é António Vitorino. Sócrates sabe o que fez. Sabe o que quer fazer com esse anúncio. Os portugueses, na sua generalidade, ou adoram Vitorino, ou gostam de Vitorino, ou pedem Vitorino, ou acham que Vitorino está mal no PS, ou dizem que Vitorino até nem é o pior dos corredores da sede do Rato.

O fundo da questão é que a grande maioria dos portugueses não sabe bem o porquê de gostar de Vitorino, e é esse carisma, aliado a uma saudável distância Portugal-«Europa»/Bruxelas, que o torna numa figura messiânica do Partido Socialista. Diz quem viu, ou quem sabe, que Vitorino, nas suas primeiras declarações para os portugueses, teve discursos ou afirmações vazias de ideais, com pouca substância, e muita ira tipicamente de oposição. Vitorino saiu, de cabeça erguida, e sem nada a apontar, dos últimos tempos de governo do PS. Veremos se, no próximo ano, o manto diáfano da virtude com que parecem querer cobri-lo há muito, não cairá e revelará que Vitorino era pouco mais do que sempre nos mostrou. Com todo o respeito, com a bagagem de responsabilidade política e pública que agora transporta, é provável que venha a ser mais uma desilusão para a audiência pró-socialista.

[João Silva]