segunda-feira, setembro 27, 2004

Soneto de amor

Que rosas fugitivas foste ali!
Requeriam-te os tapetes, e vieste...
Se me dói hoje o bem que me fizeste,
É justo, porque muito te devi.

Em que seda de afagos me envolvi
Quando entraste, nas tardes que apar’ceste!
Como fui de percal quando me deste
Tua boca a beijar, que remordi!...

Pensei que fosse o meu o teu cansaço,
Que seria entre nós um longo abraço
O tédio que, tão esbelta, te curvava...

E fugiste...Que importa? Se deixaste
A lembrança violeta que animaste,
Onde a minha saudade a Cor se trava?...

Mário de Sá-Carneiro, Poemas

[Paulo Ferreira]