segunda-feira, setembro 06, 2004

Patton (IV e último)



Depois da bem sucedida invasão da Sicília, o General Patton manteve-se ligado, passivamente, às acções conjuntas dos Aliados na contra-ofensiva que já se «rascunhava» no sul da Europa. No entanto, em Março de 1944, novamente pela mão de Dwight D. Eisenhower, foi encarregue do comando do Terceiro Exército na Grã-Bretanha, de forma a preparar as forças para um ano difícil e empenhado no noroeste europeu. O mesmo «Ike» viria, após o Dia-D, a reprimir Patton por novas declarações políticas públicas proferidas em Inglaterra. Mas a reprimenda não fora formal o suficiente para abalar a mútua confiança que ligava os dois militares e, sobretudo, para abalar a confiança que Patton tinha em si mesmo.

A 1 de Agosto de 1944, começou assim a sua campanha pela Europa. Desembarcando em França, as forças comandadas por Patton varreram o exército do Eixo da Europa Ocidental, gradualmente obrigando a Alemanha de Hitler a fechar-se sobre si mesma, refugiando-se nas fortalezas como num celeiro. A velocidade das suas operações e das suas acções ofensivas foram cruciais na recuperação do poder Aliado na Europa e na derrota, não só de bolsas de resistência inimigas, como do maior grosso das forças alemãs na Frente Ocidental. O próprio Patton chegou a afirmar, quanto à hesitação perante a ofensiva Aliada: «A good plan, violently executed now, is better than a perfect plan next week.»

Mas, talvez o seu feito mais famoso tenha sido a sua intervenção na batalha das Ardenas. A 16 de Dezembro de 1944, a Alemanha concentrou quase todas as suas forças terrestres (destaque para as enormes divisões de blindados Tiger e Panzer) e aéreas numa tentativa para esmagar as esperanças do exército norte-americano que se encontrava no Nordeste de França. Patton, apercebendo-se do sucedido, voltou da sua ofensiva numa área no sudeste e, num célere movimento conjunto, virou as suas forças contra os alemães, flanqueando-os a Sul, e ajudou a suster a contra-ofensiva inimiga. O General Omar Bradley classificou a acção militar de Patton como «um dos feitos de liderança mais espantosos da nossa campanha a Ocidente e da História militar».

No final da guerra, o General adquiriu as quatro estrelas. Sentia-se, então, um homem realizado, com um pé na Lua. Ficou, ainda, encarregue de governar a Bavária ocupada. Enquanto exercia essas funções, continuou a exprimir-se da forma irreverente e indomável que sempre o caracterizou. Obstinado, mas indomável. Opôs-se a obsessiva desnazificação que estava em curso em todas as áreas da sociedade na Alemanha ocupada. Essa indiscrição valeu-lhe a destituição desse cargo e de comandante do Terceiro Exército em Outubro de 1945. Foi-lhe atribuído o comando de uma simbólica força militar encarregue de estudos militares operacionais. A 9 de Dezembro de 1945, sofreu um acidente de viação, do qual lhe resultaram feridas graves das quais nunca recuperaria. Não teve, sequer, tempo de o fazer: no dia 21 de Dezembro do mesmo ano, 12 dias depois do acidente, falecia no Hospital de Heidelberg, na Alemanha. Foi enterrado juntamente com os homens que caíram na batalha do Bulge, no cemitério de Hamm, no Luxemburgo.

Poder-se-ia dizer que Patton tinha problemas em encontrar homens que lhe conseguissem fazer frente como militares. Todos o sabiam. No entanto, entre outras personalidades, amigas (Eisenhower, Montgomery, Bradley) e inimigas (Rommel), Patton tinha um inimigo que sempre o venceu. Esse inimigo era ele mesmo. A sua arrogância, o seu excesso de confiança, o seu estatuto de prima donna. Um general inultrapassável, mas também uma pessoa por vezes insuportável, dizia quem o conhecia. Os seus subalternos dividiam-se entre amor e ódio por si. No entanto, uma coisa parecia ser comum a todos: a admiração pelo líder que fora Patton. A consciência do risco e a capacidade de arriscar e assumir responsabilidades eram as suas maiores forças. Mas nunca soube, de certa forma, estar calado. A sua personalidade profana insultava o politicamente correcto que, normalemente, impera no Exército.

George Smith Patton Jr. nasceu a 11 de Novembro de 1885, em San Gabriel, na California. Morreu a 21 de Dezembro de 1945 em Heidelberg, na Alemanha. Ficou conhecido por desenhar os seus uniformes, por ter à cintura pistolas com coronhas de marfim, por ter uma personalidade tempestuosa e, não menos importante, por ter sido um dos maiores comandantes da história da América. Teve em si mesmo o seu pior inimigo.

«An incessant change of means to attain unalterable ends is always going on; we must take care not to let these sundry means undue eminence in the perspective of our minds; for, since the beginning, there has been an unending cycle of them, and for each its advocates have claimed adoption as the sole solution of successful war.»
-Gen. George s. Patton

[João Silva]