sexta-feira, setembro 17, 2004

As palavras que nunca se chegam a dizer

São coisas da vida e pouco há a fazer. Por mais que se tente, por mais que se fale fica sempre algo por dizer. E, quando desejamos faze-lo, deixamos de o poder. Essa pessoa partiu, não se sabe muito bem para onde, para as estrelas, para o purgatório. Foi-se. Chora-se.
É nestes momentos que a dor toca fundo. Uma dor que nunca antes pensámos poder sentir. Quando percebemos que não mais poderemos falar com aquela pessoa, dizer-lhe o quanto a amávamos. Pois é agora, agora que ela deixou de estar connosco, deixou de estar à distância de um abraço, de um telefonema, que mais temos necessidade de lhe falar. De lhe dizer aquilo que sempre quisemos dizer, mas nunca tivemos coragem.
O sentimento mais profundo apenas se demonstra na ausência. Na ausência, quando nada mais se pode dizer. E talvez por isso mesmo, seja o sentimento mais profundo, um sentimento que apenas de pode manifestar na dor e na mágoa. Na dor da ausência, na mágoa de não poder falar.
Há palavras que nunca se chegam a dizer. Por mais que falemos, fica sempre algo por dizer. É isso mesmo a dor, a saudade por alguém. Se ficasse tudo dito, não mais precisaríamos da pessoa, de a lembrar. E por isso, talvez seja bom deixar algo por dizer, algo sem qualquer verdadeira importância. Algo apenas para nos lembrar.

[Tiago Baltazar]