sexta-feira, agosto 13, 2004

Ler?

Há manhãs em que apetece estar num café, sentado. De preferência, a ler um livro. Hoje tive uma dessas vontades súbitas . Por isso, saí de casa com um livro na algibeira, pronto para ler ao som do tilintar de moedas no balcão. Quando, finalmente, chego a um estabelecimento, no qual nunca tinha entrado, mas que me parecia deveras asseado, coloco um livro e um caderno em cima de uma mesa livre. Depois de sentado, e de ter comido, talvez, um pastel de nata, começo a pegar sossegadamente no livro. Simultaneamente, reparo no olhar desconfiado do empregado de mesa. Porém, depois de começar a ler, já o empregado tinha sido esquecido. De repente, sinto um toque no ombro. Ao virar-me, vejo que é o empregado desconfiado. Ele diz-me qualquer coisa, mas não o percebo. Peço-lhe para repetir. E ele, tartamudeando, diz: “O senhor não pode ler aqui...”. Eu lanço-lhe um olhar incrédulo. E ele continua: ”É verdade, nesta casa não se pode ler. Não viu aquele papel que coloquei na porta de entrada? Lá diz que é proibido ler nesta casa!”. Envergonhado, levanto-me e, com um sorriso forçado, peço-lhe desculpa.

[Paulo Rodrigues]