sexta-feira, julho 02, 2004

Girinos

Como já disse uma vez, a unanimidade assusta-me. A obscuridade dessa palavra, e desse sentimento, assusta-me profundamente. Sobretudo quando o país, muito mais (importante) do que o PSD, está em crise. O partido, saudavelmente, divide-se quanto à escolha de um sucessor «natural» para o irrequieto ex-Primeiro Ministro Durão Barroso. Depois de muita discussão, muito debate, muita faísca, eis que surge a verdade: escolha de Santana Lopes com 98%. Consenso. Unanimidade.
Santana é um girino do partido, e isso, juntamente com a triste, sublinhe-se triste, unanimidade dos militantes do Congresso, é um facto terrivelmente consumado. O PSD/PPD foi, em tempos, um partido de reacção, de tendência conservadora, ao intelectualismo romântico e burguês do PS. Era, sobretudo, um partido controverso, porque tinha ideias quando as ideias se queriam «de esquerda». Nos anos 60 e 70 sobreviveram. Hoje, tornou-se um partido de jovens e adultos sectários, dentro do qual sobrevivem meia dúzia de figuras fortes mas já «gastas». Gastas pelo aparelho (por atrito, note-se) e pela falta de estrutura do próprio partido.
Se Santana foi eleito por consenso apenas para não abalar o partido e para não passar imagem de «divisão», então o PSD é, hoje, aquilo que outros partidos são há muito: um partido de oportunidades, dentro do qual se «nasce», cresce e some-se para Bruxelas. Em suma, uma filial desidratada do PPE.

[João Silva]