quarta-feira, junho 30, 2004

Totalitarismo partidário



Uma característica dos Partidos Comunistas, nascida na Revolução Soviética, é a luta interna pelo poder. Por um lado, defendia-se o partido e a necessidade de uma «imperturbável continuidade» dos líderes, ou seja, uma solução dinástica, apenas ultrapassada pela monarquia. Por outro, desejava-se tomar conta do partido, mesmo sabendo que não se poderia mudar o rumo e a linha de pensamento. Esse é o equilíbrio (ou a falta dele) que marca o «séc. XX comunista».
Na União Soviética foi Estaline o expoente máximo dessa ambição pós-moderna que demonstrou uma das grandes possibilidades deste regime: a capacidade de destruição interna. Estaline demonstrou como o racionalismo ao serviço da política e da sociedade eclipsa o pensamento e o «instinto» humano. Eliminou inimigos, adversários, rivais, amigos, companheiros, mentores, protegidos, camponeses, operários, soldados. Não porque precisasse, mas porque podia. Lenine fê-lo até um certo ponto. Infelizmente, a sucessão e o partido sobreviveram aos conflitos e a violência continuou e espalhou-se para Oeste, até chegar, em 1945, a meio da Alemanha.
Ou seja, as pessoas elegem um nível acima. Essas outras a mesma coisa, até chegar à cabeça do PC, o único partido disponível e permitido. Todas têm a palavra, mas o «líder», o grande líder é o único cuja palavra pode ser ouvida. Em direcção ao «fim da história», ao grande objectivo da luta de classes, o Partido tem uma missão. E essa missão é imperturbável. Custe o que custar. Estaline mandou matar. Mao mandou matar. Pol Pot mandou matar e matou. Fidel manda matar. Cunhal mandou matar. Dentro e fora do partido. O regime comunista defende o centralismo democrático, que, daí ao totalitarismo, é um passo. Mas o Partido Comunista, seja qual for, antes de ser regime, já é totalitário.

[João Silva]