sexta-feira, junho 25, 2004

Hanif Kureishi

Intimidade é o nome do meu livro preferido deste escritor. Não é qualitativamente comparável aos clássicos. Mas, se a razão me diz que deveria estar aqui a divagar sobre as páginas de O Processo de Kafka, o coração obriga-me a fazer uma apologia decorativa deste livro, que considero, fantástico.
Em Intimidade, o leitor depara-se com as últimas vinte e quatro horas de um casamento marcado pelo vazio. Jay é o centro de todas as atenções. Tudo o resto não importa. A mulher e a família são apenas personagens-tipo. Limitam-se a ser irritantes.
À medida que as horas vão passando, Jay vai hesitando. A decisão de abandonar a sua triste família, apesar de já ter sido tomada há muito tempo, não lhe parece ser a mais correcta para todos. Mas, no fundo, Jay sabe que o mais correcto é perseguir a sua felicidade e, por conseguinte, fugir de todo aquele marasmo. Assim, Jay vai-se lembrando de todos aqueles momentos de solteiro que desejava repetir um dia e de Nina, uma antiga amante. Quando pensa em Susan, a sua mulher, Jay não se lembra do presente, mas sim do passado. Lembra-se da afeição que ela não lhe dá, mas que poderia mudar a sua secreta decisão de partir.
O livro acaba com a partida de Jay para o regresso à degradação juvenil e com a possibilidade de reconquistar os afectos de Nina, o seu amor platonizado durante anos.

PS: “Intimidade”, adaptação do livro de Kureishi ao cinema feita por Patrice Chéreau, venceu o Urso de Ouro em Berlim 2001.