quarta-feira, junho 30, 2004

Totalitarismo partidário



Uma característica dos Partidos Comunistas, nascida na Revolução Soviética, é a luta interna pelo poder. Por um lado, defendia-se o partido e a necessidade de uma «imperturbável continuidade» dos líderes, ou seja, uma solução dinástica, apenas ultrapassada pela monarquia. Por outro, desejava-se tomar conta do partido, mesmo sabendo que não se poderia mudar o rumo e a linha de pensamento. Esse é o equilíbrio (ou a falta dele) que marca o «séc. XX comunista».
Na União Soviética foi Estaline o expoente máximo dessa ambição pós-moderna que demonstrou uma das grandes possibilidades deste regime: a capacidade de destruição interna. Estaline demonstrou como o racionalismo ao serviço da política e da sociedade eclipsa o pensamento e o «instinto» humano. Eliminou inimigos, adversários, rivais, amigos, companheiros, mentores, protegidos, camponeses, operários, soldados. Não porque precisasse, mas porque podia. Lenine fê-lo até um certo ponto. Infelizmente, a sucessão e o partido sobreviveram aos conflitos e a violência continuou e espalhou-se para Oeste, até chegar, em 1945, a meio da Alemanha.
Ou seja, as pessoas elegem um nível acima. Essas outras a mesma coisa, até chegar à cabeça do PC, o único partido disponível e permitido. Todas têm a palavra, mas o «líder», o grande líder é o único cuja palavra pode ser ouvida. Em direcção ao «fim da história», ao grande objectivo da luta de classes, o Partido tem uma missão. E essa missão é imperturbável. Custe o que custar. Estaline mandou matar. Mao mandou matar. Pol Pot mandou matar e matou. Fidel manda matar. Cunhal mandou matar. Dentro e fora do partido. O regime comunista defende o centralismo democrático, que, daí ao totalitarismo, é um passo. Mas o Partido Comunista, seja qual for, antes de ser regime, já é totalitário.

[João Silva]

Centralismo democrático

O centralismo democrático é cohecido como a forma política usada pelos Partidos Comunistas. Formalmente, o aspecto centralista consiste na subordinação de todos os cargos políticos mais baixos às decisões tomadas pelos cargos mais altos. Por outro lado, a Democracia consiste no facto de o cargo mais alto do partido ser o seu congresso, para o qual os delegados eram eleitos por organizações locais. Ou seja, em teoria havia espaço neste sistema político para a discussão democrática nas eleições. Porém, na prática as criticas ao líder do Partido eram consideradas desleais. Por conseguinte , o número de expulsões era enorme e , consequentemente, a democracia era apenas ilusória.
O centralismo democrático começou por ser conhecido com Lenine. Contudo, rapidamente se espalhou pelo mundo comunista, tendo perdurado até aos dias de hoje. O exemplo mais próximo é o do, ainda existente, Partido Comunista Português. Com efeito, por mais que os membros do Partido escondam o que está à vista de todos, as expulsões e o défice democrático são bem evidentes, o que levanta uma questão. Essa questão é de sabermos se a via renovadora do Partido tem razões para existir. Na minha opinião, os diferentes Partidos Comunistas sempre se caracterizaram por este centralismo democrático que impossibilita qualquer forma de democracia (democracia como a conhecemos no mundo ocidental). Assim sendo, tudo o que venha de inovador para aquele Partido, pura e simplesmente, não pode ser aceite como comunismo, já que é essa a natureza do próprio Comunismo.

O céu como limite

O futebol inundou o Verão do povo com uma alegria imensa. O clima é de festarola. Os amigos abraçam-se e os inimigos apertam as mãos. A política, essa, deixou de interessar há muito tempo e o trabalho torna-se secundário quando se pode dar gritos de histeria no Marquês de Pombal.
Felizmente, até os apreciadores de futebol conseguem reconhecer que este ambiente que se gerou em torno da Selecção Nacional faz de nós fracos de espírito e animalescos.

A República de Weimar

A República de Weimar foi a forma de governo estabelecida na Alemanha em 1919, com a Constituição de Weimar. Desde o seu começo, a República enfrentou uma série de problemas políticos, sociais e económicos, que iam impedindo o restabelecimento da ordem e da estabilidade numa Alemanha devastada, sem bases sólidas para constituir uma verdadeira democracia liberal e sem capacidade de controlar o poder ascendente das elites alemãs.
Com a crise económica mundial de 1929 (provocada por um estrondoso Crash Bolsista nos Estados Unidos), o desencantamento pela política começou a aumentar e surgiram os primeiros movimentos e, também, partidos extremistas.
Com efeito,a partir de 1930, a República de Weimar foi progressivamente passando de um regime parlamentarista para um regime presidencialista. Hidenburg é a figura máxima desta transformação, ao usar e abusar dos seus poderes de Presidente da República. O descrédito pelo parlamentarismo era cada vez maior. É neste contexto que Adolf Hitler (líder do Partido Nacional Socialista) chega a Chanceler, em Janeiro de 1933 e , consequentemente, acaba com a contestada Constituição de Weimar.

terça-feira, junho 29, 2004

A ilha de Jardim

Não posso concordar inteiramente com o Paulo no último post. Alberto João Jardim apoia Santana Lopes, é verdade. Mas não pertence ao aparelho. Desde pequeno que constato outra realidade. Criou-se outro «centro» de poder (virtual) naquele arquipélago, uma espécie de centro de pressão com alguma força, personalizado numa personagem. Logo, acontece o contrário: o aparelho (na Madeira) é que pertence a Alberto João.

[João Silva]

Cabeças de aparelho

Jorge Nuno de Sá, líder da JSD, Alberto João Jardim e Miguel Relvas têm todos algo em comum. Para além de serem todos apoiantes de Santana Lopes, pertencem ainda a uma coisa fantástica chamada "aparelho".

Febre Amarela

O Paulo chama-me puro Conservador. O que pode cair mal nas hostes. A palavra tem muitos sentidos, e o ser humano outros tantos. Porque imagem, embora não interesse muito, é coisa que não se esquece. Sobretudo, os bloggers são personagens. Desenvolve-se uma ideia hoje, outra amanhã. Mas a personagem, e a personalidade, não morre. E tanto mais difícil será isso acontecer num blog com um anfitrião e um convidado.
Voltando ao que interessa, a verdade é que não sou um conservador clássico. Nem, por outro lado, vejo a realidade por um prisma igual ao do Paulo. Temos algumas diferenças. Mas as diferenças nunca assassinaram a política. Pelo contrário. Em 1937, na China, Chiang Kai-Shek e Mao Tsé-Tung abraçaram-se para abrir hostilidades contra o Japão. Assim que acabou o conflito internacional, Mao e Chiang voltaram à «sua» guerra e não pararam até que um chinês correu com o outro para a Formosa.
Felizmente, aqui encontramo-nos no mesmo quadrante. E bastante longe das «febres amarelas». Mas há algo em comum: sem atingir o nacionalismo, o que interessa é mesmo o blog.

[João Silva]

Nova entrada

Depois de alguma reflexão, cheguei à conclusão que a melhor maneira de evitar que o marasmo e a rotina se viessem a instalar futuramente no blogue é convidando alguém que goste deste ambiente de discussão. Assim sendo,a partir de hoje, o meu amigo João Carlos Silva, um puro Conservador, começará a escrever regularmente (espero eu) aqui, no Lusitano.

O povo e o astro

De vilão, Durão Barroso passou a ser o herói de um país dominado pelo futebol(acredita o leitor que há blogues que comentam jogos do Euro em directo?). O povo admira-o. Por todo o lado se ouve dizer que o ainda primeiro-ministro é um dos grandes políticos do panorama nacional.Também eu consigo admitir que cheguei a ser, em tempos, admirador de Durão Barroso enquanto político. Apesar disso, não consigo tolerar este novo ser que se elevou aos céus através de uma analogia obtusa. A analogia é a seguinte: se não há problema em um treinador do Cascalheira Futebol Clube ir treinar o Real Madrid (e ganhar mais dinheiro), então não haverá problema em um primeiro-ministro assumir a presidência da Comissão Europeia.
Será que os cronistas ganharam, finalmente, consciência de que o povo é ignorante e que basta falar da pátria portuguesa e de futebol para que as massas aplaudam?Julgo que não. Grande parte dos cronistas de Direita, para meu grande desalento, não consegue referir as consequências da ida de Durão Barroso para Portugal e para a Europa.

Cronologia iraquiana

2003

Abril - 9

Cai a estátua de Saddam Hussein e com ela o regime, 20 dias depois do disparo do primeiro míssil da operação "Liberdade Iraquiana"

Abril - 21
Chega ao Iraque o general na reserva Jay Garner para liderar o Gabinete para a Reconstrução e Ajuda Humanitária - primeira e fracassada experiência de administração americana que dura apenas três semanas

Maio - 1

O Presidente George W. Bush declara terminadas as "principais operações militares"

Maio - 2

Os Estados Unidos anunciam a criação de uma força internacional de estabilização e dizem que cerca de 30 países estão prontos a participar

Maio - 12


Paul Bremer chega como administrador civil com plenos poderes, substituindo Garner. Cria no seu primeiro decreto a Autoridade Provisória da Coligação, estrutura que concretiza a ocupação

Maio - 16

Bremer anuncia a interdição de acesso à função pública de todos os responsáveis do Partido Baas

Maio - 22
As Nações Unidas dão por terminados 13 anos de sanções contra o Iraque

Maio- 23

Bremer anuncia a dissolução das forças armadas, dos ministérios da Defesa e Informação e de todos os órgãos de segurança

Julho- 13

Os 25 membros do Conselho de Governo Transitório reúnem-se pela primeira vez. Dias antes Bremer, que os escolheu, aceitara que tivessem verdadeiros poderes executivos, mas manteve o direito de veto sobre todas as decisões

Julho- 22

Os filhos de Saddam, Udai e Qusai Hussein são mortos e o círculo ao ex-ditador começa a fechar-se

Agosto - 8

É anunciada a criação do novo exército, que contará com 40.000 homens

Agosto - 14

A resolução 1500 da ONU "aprova o estabelecimento" do Conselho de Governo sem o reconhecer explicitamente, como queriam os americanos

Setembro - 1

O Conselho de Governo nomeia o primeiro governo do pós-Saddam

Setembro - 20

Primeiro atentado contra um membro do Conselho de Governo

Outubro - 16

A ONU aprova uma resolução que prevê a força multinacional mas mantém o controlo quase absoluto de Washington

Novembro - 15

Acordo entre Bremer e o Conselho de Governo sobre o calendário da transição. Os xiitas exigem alterações e a convocação de eleições antes da entrega de poder

Dezembro - 13

Depois de mais de oito meses de fuga, Saddam Hussein é capturado perto de Tikrit e passa a prisioneiro de guerra

2004
Janeiro - 23

Demite-se David Kay, chefe do grupo de investigadores que a Casa Branca encarregou de encontrar armas de destruição maciça

Março - 8 É aprovada a constituição provisória, documento que faz do islão a religião do estado mas não fonte de lei, e confirma o estatuto de autonomia ao Curdistão

Março - 29

Bremer entrega as chaves do primeiro ministério aos iraquianos

Abril - 23

Semanas de violência de Norte a Sul antecipam o aligeirar das regras de desbaasificação. Cerca de 30 mil funcionários são autorizados a regressar ao trabalho

Abril - 28

São conhecidas as primeiras fotografias dos abusos cometidos por soldados americanos contra prisioneiros iraquianos em Abu Ghraib

Maio - 17

O presidente em exercício do Conselho de Governo, Ezzedin Salim, é assassinado

Maio - 28


Iyad Allawi é escolhido como primeiro-ministro interino, num processo teoricamente liderado pelo enviado de Kofi Annan, Lakhadar Brahimi

Junho - 1

Ghazi al-Youar é designado novo presidente. Entra em funções o novo governo

Junho - 8

A resolução 1546 da ONU oficializa o fim da ocupação civil, legimita a militar e estabelece as etapas da transição

Junho - 28

Dois dias antes do previsto, Paul Bremer entrega formalmente o poder no Iraque ao novo governo e abandona o país

The all pervading


George Frederick Watts

segunda-feira, junho 28, 2004

Bill Clinton igual a John Kennedy

Bill Clinton foi um dos presidentes mais amados dos Estados Unidos. Todos os seus sorrisos, todas as suas piadas, todas as suas poses, representavam aquilo que o povo gostava e, porventura, sonhava. Isto é, o povo queria (e continua a querer) um princípe encantado que espalhasse simpatia e levantasse emoções por onde passasse. É essa a história de Bill Clinton. A história de um homem completamente dominado pelo politicamente correcto, sem ideologias para pôr em prática.Mas, as coisas são assim. O povo gostava dele.
Outro caso semelhante é o de John Kennedy. A política de John Kennedy também reduziu-se à imagem e à aparência. Contudo, também ele foi o bem-amado da América. Mas falar-se das suas políticas em concreto pura e simplesmente é impossível, já que elas não existiram. No tempo de John Kennedy, apenas fica na retina o lamentável desembarque de meia dúzia de tropas americanas na Baía dos Porcos (1961), em Cuba, de forma a travar o fervor revolucionário que havia triunfado com os revolucionários Fidel Castro e Che (esse mesmo das "t-shirts"). Diga-se que, não me lembro de outra decisão tão ridícula.

A queda dos Liberais (lido no Público)

"Em Dezembro passado, o antigo e ambicioso ministro das Finanças canadiano, Paul Martin, forçou a substituição do primeiro-ministro Jean Chrétien e prometeu ao Partido Liberal, no poder desde 1993, muitos mais anos de hegemonia. Mas está em risco de perder as eleições legislativas de hoje para o Partido Conservador do Canadá, de Stephen Harper, que há dois meses parecia fora da corrida."


Reclining Nude


Henri Matisse.

Recomendação

Vasco Pulido Valente (VPV) é um dos cronistas, que considero, essenciais para perceber o nosso país. Assim sendo, nunca será abusivo fazer recomendações aos seus livros.
Retratos e Auto-Retratos é um livro em que VPV retrata várias passagens da sua vida mas, também, um livro em que se fala de Salazar, de Cunhal, de Sá-Carneiro, de Cavaco Silva, entre outros.

Durão Barroso na Comissão Europeia

Fala-se que, com Durão Barroso na Comissão Europeia, Portugal terá grandes vantagens. Pessoalmente, não vejo quais.
Talvez se pense que Durão Barroso trará o peixe e os fundos estruturais para Portugal, talvez se pense que Portugal assumirá um papel mais activo na União Europeia.
A minha opinião é a de que o cargo de Presidente da Comissão Europeia apenas beneficiará o próprio Durão Barroso. Veja-se o caso de Romano Prodi. Quais foram os beneficíos para a Itália? Segundo consta, a Itália encontra-se em acentuada decadência. E o que fez Romano Prodi?Talvez seja candidato a primeiro-ministro italiano.

Um olhar sobre a imprensa

Hoje vêm no Público um bom artigo da autoria do incontornável José Manuel Fernandes e intitula-se "Regras de Decoro em Democracia".

sábado, junho 26, 2004

Marasmo

O espírito com que se faz política em Portugal é assustador. A política parece ter deixado de dar prazer a quem a tenta fazer. Basta ver o Canal Parlamento um par de vezes para confirmar isso mesmo.
Os jovens, por mais incrível que pareça, são deveras culpados por isso, já que tentam subir a todo o custo através de um sistema graxista que lhes permite ter um grande estatuto político, mesmo sem terem de passar pela chamada “Universidade”. Chega a lembrar os tempos do século XIX em que a burguesia fazia os possíveis para implantar-se no seio da velha aristocracia.
Contudo, fenómenos de estupidez , tais como João Almeida, não apareceram hoje. Os mais velhos, ou os deputados que parecem ter nascido dentro do Parlamento, fizeram a mesma coisa: entram para o “aparelho” aos dezasseis anitos (ou até mais cedo); decoram o politicamente correcto que ouvem dos superiores; trocam a política pela festa e depois, quando se julgam crescidos, tornam-se altas figuras de Estado.
Exceptuando alguns casos, os deputados nascem com sede de poder e de estatuto. O conhecimento e as ideias não são importantes. Ou melhor, vêm com o dinheiro.

Santana Lopes

A possibilidade de um político como Santana Lopes substituir Durão Barroso, assusta-me quase tanto como a possibilidade de Ferro Rodrigues ganhar umas eleições.
Fale-se de Marques Mendes, ou de outro tão competente quanto este. Mas, Santana Lopes...Há mínimos de decência e o presidente de todos os lisboetas não se enquadra neles.
Contudo, flagelar Santana Lopes irracionalmente não é o que desejo. Assim sendo, não poderia evitar dizer que, para SL, as instituições são apenas uma forma de atingir o sucesso profissional sem olhar a meios. Tanto lhe faz ser primeiro-ministro ou Presidente da República, o que importa é ter um espelho à sua frente para que possa ver se a brilhantina foi bem espalhada pelo cabelo. Ao Santana vaidoso e sociável, junta-se o populista, o que faz uma fusão estrondosamente absurda.

Lido no DN

Entristeçam-se os fãs do conhecido actor Rocco Siffredi. Apesar de ainda se considerar em boa forma, o homem vai retirar-se dos palcos da pornografia por “razões familiares”.

Durão Barroso e a Comissão Europeia (notas)

Para bem da moral e da ética, esperemos que Durão Barroso (DB) continue com o projecto que idealizou para Portugal. É muito mau sinal se o futuro do chefe do Governo não passar pelo nosso país. É como se a demagogia triunfasse sobre a seriedade e a honestidade.
Primeiro que tudo, uma ida de DB para a presidência da Comissão Europeia seria de uma falta de sensibilidade tremenda para com os portugueses. Seria o ruir de meio mandato e a confirmação da fraqueza de valores morais de um primeiro-ministro que passou dois anos a pedir sacrifícios ao povo.
Por outro lado, o cargo de presidente da Comissão Europeia assenta melhor em Durão Barroso do que, propriamente, o cargo de primeiro-ministro. Até pode ser bom ter um homem que não se aproxima de todo aquele ambiente eurocrata no comando da instituição europeia que tem mais relevância no nosso país.
Depois há o papel de Santana Lopes neste caso complexo, visto que a ida do actual primeiro-ministro para a “Europa” pode implicar a ascensão da vedeta ao poder (o que faz qualquer um pensar que fugir do país a nado seria bem melhor).
Finalmente, tem de haver uma referência às instituições. De facto, é impressionante a maneira como se fala de nomes e de poder. Parece que se está a falar de jogadores de futebol.. As instituições, como a Câmara Municipal de Lisboa, essas que se danem. Interessam apenas até um certo ponto.

Já te abandono, e reconheço ao mundo
que te inventei um dia por brinquedo.
De não te conhecer fiz o sentido
Que em memória nenhuma se contém;
Deixei que fossem falsas as palavras
e que feitas de chamas me adornassem,
tradicionais, as penas do pavão.
Sinto-me bem agora, um pouco triste
de te saber contente a uma esquina
qualquer, do antigo mundo humano;
medo, talvez, te foi de bom conselho.
Grandes nomes que dei ao que senti,
Soantes rimas em que amei, te deixo
Para que ninguém saiba o que menti.

[António Franco Alexandre]

sexta-feira, junho 25, 2004

Apropos of Little Sister


Marcel Duchamp

Hanif Kureishi

Intimidade é o nome do meu livro preferido deste escritor. Não é qualitativamente comparável aos clássicos. Mas, se a razão me diz que deveria estar aqui a divagar sobre as páginas de O Processo de Kafka, o coração obriga-me a fazer uma apologia decorativa deste livro, que considero, fantástico.
Em Intimidade, o leitor depara-se com as últimas vinte e quatro horas de um casamento marcado pelo vazio. Jay é o centro de todas as atenções. Tudo o resto não importa. A mulher e a família são apenas personagens-tipo. Limitam-se a ser irritantes.
À medida que as horas vão passando, Jay vai hesitando. A decisão de abandonar a sua triste família, apesar de já ter sido tomada há muito tempo, não lhe parece ser a mais correcta para todos. Mas, no fundo, Jay sabe que o mais correcto é perseguir a sua felicidade e, por conseguinte, fugir de todo aquele marasmo. Assim, Jay vai-se lembrando de todos aqueles momentos de solteiro que desejava repetir um dia e de Nina, uma antiga amante. Quando pensa em Susan, a sua mulher, Jay não se lembra do presente, mas sim do passado. Lembra-se da afeição que ela não lhe dá, mas que poderia mudar a sua secreta decisão de partir.
O livro acaba com a partida de Jay para o regresso à degradação juvenil e com a possibilidade de reconquistar os afectos de Nina, o seu amor platonizado durante anos.

PS: “Intimidade”, adaptação do livro de Kureishi ao cinema feita por Patrice Chéreau, venceu o Urso de Ouro em Berlim 2001.

quinta-feira, junho 24, 2004

Fascismo em Rede 3

Meu caro colega, não poderia concordar mais com a sua última resposta às bacoquices propositadas que lhe dirigi. Porém, pela sua resposta, julguei interessante tecer alguns comentários.
Primeiro que tudo, a pergunta sobre a sua provável simpatia tem que ver com a enorme tolerância que já demonstrou em relação à blogosfera (a nível geral). Apesar de ter considerado essa mesma pergunta tola e disparada, não consegui evitá-la. Contudo, e sem surpresa, o senhor disse tudo aquilo que eu estava à espera (pronto, abusou um pouco com a moralidade, mas compreende-se).
Por outro lado, não poderia perder esta oportunidade de dizer-lhe que não o considero fascista. Apenas um bom tradicionalista. Fascista não, tem uma carga pejorativa muito perigosa e não chega a aproximar-se do conceito de Conservadorismo nem sequer do tradicionlismo de Salazar. Ora, exceptuando alguns teóricos que vêem fascismo em tudo o que é de Direita, sabe-se que o Fascismo foi italiano e pertenceu a Benito Mussolini. E não consta que Benito Mussolini tenha pensado no Fascismo como forma de contra-poder (nem na sua fase Sorel).

Eles existem

Depois de muito procurar na agenda, lá encontrei um amigo de Esquerda. Mais precisamente um anarquista. Achei fantástico o facto de ainda existirem indivíduos que defendem exacerbadamente as medidas de Bakunine e de Prouhon. É claro que, se o anarquista não fosse simultaneamente meu amigo, estaria aqui numa posição de ofensor enraivecido. Mas, não é esse o caso. E, portanto, fico pasmado a ouvi-lo por telefone que "não só o capitalismo deveria ser derrubado, como também deveria apunhalar-se o Estado através dos punhos de homens livres!"

Livro

Finalmente chegou a casa o meu mais recente investimento. Trata-se de Rationalism in politics and other essays, de Michael Oakeshott.

quarta-feira, junho 23, 2004

Recomendação

Na sexta-feira, o "Independente" lançou um livro que deveria ser lido por todos aqueles indivíduos que se sentem injustiçados com as pessoas que passam na rua e gritam "fascista". Pois é, o livro é de João Pereira Coutinho e intitula-se de Vida Independente.
Ainda não começei a ler o livro, que é composto pelos seus artigos de 1998 até 2003, mas estou ansioso por reler alguns dos artigos que me ensinaram a olhar para a política, para o mundo e , até, para a vida com outros olhos. Fica a recomendação.

Fascismo em Rede 2

Como poderar perceber facilmente, não tenho nenhuma autoridade moral para repreendê-lo pelo que quer que seja. Também não foi essa a minha intenção. Pelo contrário, limitei-me a tecer vários elogios ao se blogue e a si, por considerar que afasta-se bastante de alguns fascistas que conheço.

Julgo que não sou intolerante, o senhor também não me parece ser. Não sei se isso é bom ou mau para si. Mas fica a questão: seria o senhor tão simpático se subisse ao poder?

sábado, junho 19, 2004

Por motivos pessoais o arranque do blog só acontecerá, definitivamente, dia 23.

quinta-feira, junho 17, 2004

Sobre o Fascismo em Rede

Apesar de não tolerar qualquer tipo de sentimento fascista,adicionei o "Fascismo em Rede" aos meus links diários. Julgo que não me arrependerei,já que tenho acompanhado a evolução do blogue e até tenho gostado de alguns textos, que considero, doutrinários da ideologia fascista.
Contudo, o blogue nunca poderia satisfazer os seus leitores completamente. Primeiro, o seu autor excede-se um pouco com a propaganda que lá coloca (a menos que tenha pretensões de subir ao poder). Segundo, são incontáveis as vezes que o autor associa a ideologia fascista ao salazarismo. Penso que este é um dos lugares-comuns que se deveria evitar quando se tem um blogue sobre "o movimento fascista".
Mas, no geral, recomendo o blogue ao mais democrático dos cidadãos.

Tears


Man Ray

Not brave enough

São incontáveis as noites em que acordo a pensar nas vidas alheias, na decadência a que as pessoas se rebaixam. Depois lembro-me da minha própria vida.

quarta-feira, junho 16, 2004

Candidato

José Lamego é oficialmente candidato à liderança do PS. Quanto a mim, é mau para os partidos adversários que o senhor chegue à liderança do Partido Socialista. Afinal de contas, Ferro Rodrigues é uma espécie de candidato destinado à derrota. Tal como todos os Republicanos desejavam que fosse Howard Dean a defrontar George W. Bush nas eleições presidenciais, todos os partidos portugueses desejam um Ferro Rodrigues fraco, ofuscado pelo seu próprio populismo.
Quanto a José Lamego, só posso dizer que apreciei a sua decisão de partir de partir para o Iraque em tempos em que, quem falava em Bush e nos Estados Unidos, parecia criminoso.

O começo de algo

Uma introdução ou um prefácio é sempre algo injusto para o seu autor. Neste caso concreto, tenho algum receio de cair na banalidade pretenciosista de me auto-promover descabidamente.
Neste blogue vai-se falar, sobretudo, de Portugal. Contudo, desiluda-se quem pensar que o "Lusitano" é apenas mais um daqueles blogues que se inserem num nacionalismo exacerbado e sem grande sentido.

Badende Mädchen


Otto Mueller